Grandes redes perdem com retração do consumidor

Rio  – A balança dos supermercados está pesando mais para as grandes redes. Ou seja, as empresas que operam como hipermercados, com seções de bazar, importados e eletrônicos, foram as que mais perderam com a retração do consumidor e enfrentaram os maiores índices de queda nas vendas. O setor fechou ano de 2003 com redução 4,5% no movimento. Foi o pior resultado desde 1991, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

Mas as lojas menores, dos subúrbios, que oferecem principalmente produtos básicos sofreram menos. Com os preços dos alimentos subindo apenas 7,48% no ano – índice abaixo da inflação de 9,30% pelo IPCA, estas empresas foram mais agressivas nas promoções, abocanharam clientes de outras redes e tiveram crescimento entre 2% a 3% ou até maior.

“Os supermercados médios e pequenos sofreram menos porque vendem menos supérfluos, como geléias, bebidas, biscoitos e queijos finos, doces, chocolates e perfumes, que foram os produtos mais cortados pelos clientes”, explicou o empresário Cesar Costiinha, que admitiu ter alcançado resultado positivo no ano passado

– Vendemos aquilo que os clientes querem – resumiu.

A pesquisa da Associação dos Supermercados do Rio (Asserj) registrou retração de 4,61% nas vendas em 2003, índice maior que o registrado pela Abras no país. As últimas pesquisas do setor destacam entre os produtos mais cortados das listas de compras os óleos (7%); os queijos (6%); o extrato de tomate (-4,9%) e os desinfetantes (-3,1%).

O presidente da entidade, Aylton Fornari, admitiu que a queda de 12,5% na renda do ano passado atingiu a todas as famílias. E, desta vez, o aperto financeiro atingiu também a classe média, que não teve outra alternativa senão conter os sonhos de consumo. Nos supermercados, foram reduzidas as compras de doces em calda, produtos prontos, creme de leite, queijos e iogurtes.

“Estimamos que os hipermercados foram os mais afetados pela retração. Alguns concentram até 50% de não-alimentos, como artigos de bazar, têxteis, eletrodomésticos e importados que tiveram os maiores índices de queda”, disse Fornari.

A expectativa de menor rentabilidade já fez algumas grandes redes limitarem espaços dos hipermercados. O Carrefour, por exemplo, reduziu à metade a área da filial do NorteShopping, que já foi uma das mais lucrativas do país. O grupo Sendas diminuiu também as áreas de vendas das lojas da Tijuca e Carioca Shopping.

A dona de casa Luciana Machado confirmou a restrição do consumo da família. Ela conteve os gastos com lazer, eletrodomésticos, roupas, mas manteve as compras de alimentos. Mesmo correndo atrás dos preços em oferta, seu gasto mensal nos supermercados chega a R$ 600, a maioria em artigos para os filhos Lucas e Jéssica.

“Andei trocando de marcas em artigos de higiene e limpeza, como o sabão Omo pelo Minerva. Mas mantenho o iogurte, biscoito, presunto e refrigerante. Na seção de carne, só levo alcatra e carne moída de primeira. Os preços subiram um pouco, mas corto em viagens para garantir a boa alimentação de meus filhos”, disse ela ao lado do marido.

Em supermercados de periferia a Abras constatou que o movimento superou em 30% o registrado em 2002. O desempenho espetacular deve-se aos preços baixos obtidos com negociações de estoque somente à vista com os fornecedores. As lojas exigem o pagamento de compras dos clientes apenas em dinheiro, mas oferecem preços até 20% abaixo do mercado.

O presidente Abras, João Carlos de Oliveira, afirmou que 2003 foi um ano muito ruim para o setor. O consumidor se retraiu nas compras e procurou os artigos mais baratos, o que acabou reduzindo a rentabilidade das empresas. As pesquisas de empresas nas cidades de São Paulo, Rio, Salvador e Porto Alegre registram que 68% dos clientes cortaram itens na lista de alimentos e 92% compraram quantidades menores ou trocaram as marcas líderes, habituais, por outras mais baratas.

“Acho que os hipermercados sofreram mais. As pequenas empresas conseguiram cativar mais clientes com serviços e atendimento personalizado”, analisou.

Com a retração, a rentabilidade do setor desabou de 2% em 2000 para cerca de 1,5% ano passado. Para Oliveira, as causas principais da retração foram o desemprego e a renda menor. E a agravar esta situação está o comprometimento da renda das famílias, principalmente, com o pagamento de tarifas públicas, que cresceu de 11% para 14%.

“O discurso deste governo é bonito, mas não é prático. Estamos ainda aguardando a melhoria do emprego e renda”, disse o presidente da Abras.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo