Eles podem não figurar entre as principais culturas agrícolas do Paraná, mas isso não significa que não tenham o seu valor. A produção de cogumelos no Estado, embora pequena e praticada por poucos produtores, figura como a segunda colocada no ranking nacional, atrás apenas do estado de São Paulo. Com uma produção de aproximadamente três mil toneladas por ano, a Região Metropolitana de Curitiba (RMC) é o principal foco produtor, com destaque para São José dos Pinhais, Tijucas do Sul, Agudos do Sul, Piraquara e Contenda. Castro, na região dos Campos Gerais, também se destaca nesta cultura. O champignon, utilizado em pratos como strogonoff, é a principal variedade cultivada. O shitake e o shimeji, usados principalmente na culinária japonesa, também apresentam uma boa produção.
De acordo com o técnico do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de São José dos Pinhais, Paulino Nogueira Magalhães, o cogumelo paranaense possui uma excelente aceitação no mercado nacional graças à sua qualidade. “Os nossos produtores cercam-se de todos os cuidados necessários para que os cogumelos sejam reconhecidos por seus atributos. É uma área com potencial alto. O único porém é que a maior parte dos cogumelos consumidos no Brasil vem da China e não é fácil competir com o preço deles”, informa.
Magalhães afirma que o agricultor que está interessado em produzir cogumelos precisa ter muita calma, treinamento, além de um investimento alto. “Não se produz cogumelo da noite para o dia. No caso da variedade shitake, a primeira produção sai um ano depois de iniciada a atividade. Para cultivá-los, é preciso seguir uma série de determinações, como um barracão de 40 metros quadrados, com temperatura estável em 16 graus, parede impermeável e isolamento térmico. O investimento para um espaço como esse pode chegar ou mesmo superar a R$ 30 mil. O ideal é que os produtores tenham dois ou três destes barracões. Precisa ainda de uma constante busca por conhecimento e se manter sempre atualizado”, alerta. Ele diz ainda que a RMC é propícia para atividade e que, apesar do trabalho que os cogumelos dão para o produtor, a renda é boa. “Devido ao nosso clima mais ameno, o cogumelo se desenvolve bem na região metropolitana. Por exemplo, é mais fácil cultivar aqui do que no nordeste do Brasil ou mesmo em outras regiões do Paraná. A renda obtida pela venda dos cogumelos é boa. Em média, gera uma receita de R$ 3,5 mil por mês. O produtor pode vender o cogumelo in natura, mais interessante, ou em conserva. O preço obtido pode ser de R$ 3,80 para uma bandeja de 300 gramas de cogumelo in natura ou R$ 10 para um quilo do produto em conserva”, conta.
Dedicação exclusiva
Para trabalhar com cogumelos, o produtor precisa de dedicação exclusiva. Quem garante isso é o técnico agropecuário da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de São José dos Pinhais, Marco Antonio Fonseca. “Aventureiro não se dá bem nesta cultura. Quem estiver interessado em produzir cogumelos deve estar ciente dos gastos e, como costumo dizer, tem que ser a primeira e única opção da produção da propriedade. Só incentivamos o produtor a abraçar esta causa se sentirmos que ele realmente vai dar conta do recado”, garante.
Uma das dificuldades apontadas pelo técnico agropecuário é quando os cogumelos são atacados pelo fungo conhecido como mole. “Apesar de o cogumelo ser um fungo, ele pode ser atacado pelo mole. Quando isso ocorre, tem que parar imediatamente a produção, pois não há o que fazer. É preciso fazer uma esterilização minuciosa e até certo ponto, pois se esterilizar demais vai dar problema. Por essas e outras que a gente fala que a dedicação para a atividade tem que ser total”, afirma.
O município da RMC conta hoje com 40 produtor,es. Segundo Fonseca, tudo o que é produzido é vendido. “Eles vendem principalmente para o Mercado Municipal de Curitiba, restaurantes e pizzarias, além de outros estados. Mesmo gerando pouca arrecadação para a cidade, a atividade tem sua relevância para a gente”, avalia.
Cultivo passado de pai para filha em São José dos Pinhais
Uma das propriedades que mais se destaca na atividade em São José dos Pinhais pertence a engenheira agrônoma Miriam Yamashita. O espaço, que pertencia ao seu pai, produz cogumelos há mais de 30 anos, principalmente as variedades shitake e champignon. “Meu pai produzia mais o shitake e o shimeji. Desde que assumi a chácara, passei a diversificar um pouco mais, produzindo champignon e o cogumelo porto belo. O carro-chefe daqui é o champignon, cuja produção chega a aproximadamente uma tonelada por mês, e o shitake, que produzo 400 quilos/mês”, diz.
A engenheira revela que precisa de um bom know how antes de tentar a sorte na atividade. Além de conhecimentos técnicos, habilidades comerciais são fundamentais. “É importante você ter uma clientela fixa, pois o cogumelo na forma in natura dura mais ou menos cinco dias após ser colhido. É fundamental você vender o produto fresco, pois assim você sempre irá conseguir manter os seus compradores. Por conta disso, tenho compradores daqui de São José dos Pinhais, Curitiba, Londrina, Maringá, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo”, opina.
Das espécies de cogumelos que produz, Yamashita conta que todos dão trabalho. Contudo, chama a atenção a forma como o shitake é produzido. “Para se obter o shitake, é preciso injetar a “semente’ em troncos de árvores, como a castanha portuguesa e o eucalipto. Após um período, os troncos são levados para um barracão onde vão sofrer um choque hídrico. Somente após essa etapa é que o shitake irá nascer. Esse processo todo leva em média um ano para acontecer”, informa.
Yamashita afirma que vale a pena dedicar a vida para esta atividade. “Gosto muito de trabalhar com esta cultura. Possuo bons contatos, não tenho problema com inadimplência, a atividade gera uma renda boa e, além de tudo isso, há uma satisfação pessoal, pois estou em contato com os cogumelos desde que nasci”, encerra.