Com o fim da Copa da África do Sul, hoje, as atenções se voltam, definitivamente, para a organização do evento no Brasil, em 2014. Enquanto as preocupações com aeroportos e alguns estádios são grandes, os hotéis garantem estar em condições de dar conta do recado.

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A empresária Chieko Aoki, presidente da rede Blue Tree Hotels e considerada a dama da hotelaria no País, conversou com O Estado e deu um panorama do setor para os próximos anos.

O Estado – Como o setor hoteleiro recebeu as notícias da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016?

Chieko Aoki – O Brasil acabou se saindo bem da crise econômica mundial. E o turismo, sem dúvida, é um vetor de influência muito forte dentro desse contexto, porque participa com a geração de empregos diretos e indiretos, traz investimentos para o País e tem participação significativa no Produto Interno Bruto (PIB).

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A Copa e as Olimpíadas servirão como impulso para a indústria turística, assim como para o desenvolvimento do País, de uma forma geral. A expectativa é que o Brasil receba de 500 mil a 600 mil turistas estrangeiros durante a Copa e a oferta de unidades habitacionais (UHs) deve aumentar até 30% até 2014, segundo dados da Fundação Getulio Vargas.

O Brasil tem grande potencial e estes eventos ajudarão o País a alinhar, melhorar e renovar a infra-estrutura e instalações para um turismo civilizado, contribuindo para o amadurecimento e profissionalismo do turismo brasileiro.

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O segmento hoteleiro, por sua vez, sendo um dos principais elos da cadeia do turismo, está se preparando desde já para oferecer produtos e serviços de primeira linha para os visitantes do País.

OE – Independentemente dos eventos, como está o panorama atual no setor? Está valendo a pena investir na área, no Brasil?

CA – Diferentes pesquisas recentes, elaboradas por grupos especializados, como a Fundação Getulio Vargas e a Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo (Pacet), apontam tendência de crescimento de 14,6% em 2010, com aumento no volume de negócios e no faturamento das empresas.

Há aumento na demanda, por parte dos consumidores, que estão com potencial de compra cada vez mais elevado devido ao aquecimento da economia nacional. Há alguns mercados que parecem não estar sendo atendidos em regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste do País.

Acaba sendo uma tendência dos empresários focar o eixo Sul-Sudeste, mas isso parece estar mudando. O Nordeste, por exemplo, vem despontando como mercado com elevada ascensão de consumidores da classe D para classe C, ávidos por novidades.

OE – Quais os diferenciais da hotelaria brasileira, em relação a países desenvolvidos e à América Latina?

CA – O brasileiro tem, inerente, a hospitalidade calorosa, que recebe de braços abertos e sorriso todos os turistas, sejam de outras cidades do País, sejam de fora. Este é o principal diferencial da hotelaria brasileira.

Ela ainda precisa se profissionalizar mais em relação à Europa e aos Estados Unidos, mas o carisma brasileiro o turista só encontra aqui. Técnicas e ferramentas podem ser facilmente ensinadas e aprendidas, mas receber com calor humano não é técnica, é cultura.

OE – O turismo de negócios é mesmo o que representa a maior parte do faturamento dos hotéis curitibanos?

CA – Em 2008, dos 2,3 milhões de turistas que visitaram Curitiba, 49%, aproximadamente, vieram à cidade para fazer negócios, segundo um levantamento do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba.

A capital paranaense também ocupa a oitava posição no ranking da International Congress & Convention Association (ICCA), das cidades que mais recebem eventos internacionais.

Fato que mostra como a cidade tem vocação para o turismo de negócios. Os hotéis acabam se beneficiando com este viajante, que, além de trazer movimento durante a semana para os estabelecimentos, costuma gastar quatro vezes mais que um visitante a passeio.

No entanto, as revitaliza&ccedil,;ões de espaços turísticos e as novas opções devem trazer mais visitantes a lazer para a cidade, tornando o destino ainda mais atrativo e promovendo a permanência desse turista por mais tempo.

OE – Voltando à Copa, como deve ser a demanda em Curitiba durante o evento, e o que deve mudar depois?

CA – Modelo em urbanismo, Curitiba já é porta de entrada para a região Sul, e com a Copa deve colher bons resultados. O aeroporto Afonso Pena, que hoje recebe 3,5 milhões de passageiros por ano, passará a ter, depois das obras em andamento, 8 milhões de passageiros por ano.

Na hotelaria, a capacidade atual é de 18 mil leitos e deve ser ampliada para 20 mil leitos. A cidade se mostrará para o mundo e isso deverá trazer maior reconhecimento internacional e nacional.

OE – E no País?

CA – Precisamos considerar que esses acontecimentos de grande impacto, como Copa do Mundo e Olimpíada, atrairão turistas não apenas para os eventos. A expectativa é que muitos desses visitantes retornem, por isso é importante trabalhar na captação, buscando deslumbrar os visitantes. Todos sabem e dizem que o Brasil tem grande potencial e estes eventos ajudarão o País a renovar a infraestrutura, ajudando a amadurecer o setor.

OE – Com o fim da Copa, não teremos uma grande capacidade ociosa a ser ocupada? Quais os outros desafios de Curitiba e do Brasil?

CA – Para não corrermos o risco disso acontecer, é preciso pensar o crescimento do parque hoteleiro sem esquecer de sua sustentabilidade. Eventos desse porte são importantíssimos, entre outros fatores, pelo legado que podem deixar.

Isso faz com que a qualificação de trabalhadores seja uma das maiores preocupações das cidades que sediarão o evento. Garçons, taxistas, camareiras e até policiais já estão sendo escalados para os programas de aprendizado de línguas estrangeiras, em especial o inglês, o espanhol, o francês e o alemão.

OE – Como as redes que a senhora administra estão se preparando para atender a essas mudanças?

CA – Nos próximos três anos, estão previstas seis inaugurações de hotéis do nosso grupo, em praças que abarcam nicho de mercado diferenciado, nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, e no estado de São Paulo. Será um desafio e uma oportunidade. No dia 1º de julho inauguramos o Blue Tree Premium Manaus.

Outra inauguração já planejada é de uma unidade na cidade de Natal (RN). Das 12 cidades-sede, temos empreendimentos em sete delas, ou seja, até a Copa estaremos presentes em 67% das cidades escolhidas. Além da expansão em termos numéricos, é importante ressaltar que o conceito das nossas empresas nos remete a um crescimento qualitativo, longevo e sustentável.

Não basta apenas ser grande em números, é preciso ter uma relação de confiança com os clientes e investidores. Estamos focando bastante no treinamento de pessoas, também um dos nossos pontos fortes.

Há três anos, criei um “ten years plan”, que, traduzindo literalmente, trata-se de um plano de dez anos. Neste, fiz metas sobre onde quero que a Blue Tree Hotels esteja em 2017, levando em consideração não apenas número de hotéis, mas lugares que eu quero que a rede esteja operando e o posicionamento da rede no mercado hoteleiro.

Sempre tive a firme crença de que a excelência em produtos e serviços são os grandes responsáveis pelo sucesso das corporações. Se esses são fatores importantes para o mercado em geral, imagine no setor de turismo.

OE – A senhora é considerada a dama da hotelaria brasileira. O que a levou a esse título?

CA – Quando decidi fundar a Blue Tree Hotels, identifiquei uma oportunidade de criar hotéis de categoria superior com riqueza em serviços personalizados. A atenção ao detalhe sempre foi uma característica pessoal, muito ligada à minha origem japonesa, que preza pela qualidade acima de qualquer coisa.

Esse cuidado foi naturalmente tomando forma concreta nos serviços oferecidos aos clientes. Sempre fui detalhista, perfeccionista, crítica, sensível à percepção das coisas e dedicada.

Ao longo dos anos percebi algo de extrema importância: &eacut,e; preciso fazer tudo isso com alma, coração. Aprendi que isso faz toda a diferença. E com forte sentimento de justiça, responsabilidade e que dá colorido à minha vida e às das pessoas com quem me relaciono.