Governos querem diversificar atividade dos fumicultores

Diversificar a atividade dos fumicultores paranaenses é o desafio do governo federal e estadual. Desde que o Brasil tornou-se signatário da Convenção-Quadro para o controle do Tabaco, desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2005, o País busca alternativas para atividades produtivas, por meio do Programa Nacional de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco, que geram rendas para esses produtores, visando, além do fator financeiro, melhorias na qualidade de vida e sustentabilidade social, ambiental e cultural. O tema foi debatido em um seminário em Curitiba, na primeira semana de maio.

Segundo o secretário da agricultura e do abastecimento do Paraná, Valter Bianchini, a tendência é que a produção e o consumo do tabaco diminua com o tempo.

Para que o fumicultor não fique prejudicado – e fique menos dependente dessa cultura – um estudo vai revelar qual seria a melhor opção para os produtores. “Existem diversas opções, como a pecuária leiteira, a fruticultura, olericultura, agroindústria familiar, entre outros. Não queremos simplesmente que eles abandonem essa atividade, uma vez que ela gera um certo lucro, pois o Brasil é o segundo maior produtor de fumo do mundo e é o maior exportador desse produto. Porém queremos que eles não fiquem apenas nessa monocultura e passe a ampliar as atividades econômicas de sua propriedade”, explica o secretário.

Ele diz ainda que devido a assinatura da Convenção-Quadro, o Brasil já toma medidas para diminuir o consumo do tabaco. “Tanto o governo federal quanto o estadual se posicionam contrários ao uso do tabaco. Por exemplo, para que os bens de consumo, como eletrodomésticos, tivessem uma diminuição no preço, houve um aumento nos impostos ligados ao cigarro. No Paraná, o governador Requião aumentou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) para poder diminuir a carga tributária em outros produtos”, informa.

Perigo

De acordo com o técnico em agropecuária do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Antônio Carlos Gera, a fumicultura representa também um perigo para a saúde do agricultor. Gera diz que o fumo utiliza muito agrotóxico e que o produtor fica muito exposto a esses produtos químicos.

“A atividade é bem desgastante, pois exige muito do produtor. Ela tem um tempo certo para colheita e, independente das condições climáticas, o fumicultor tem que colher o produto. Além disso, o processo para estocagem e secagem do fumo é um trabalho difícil e muitas vezes eles têm que passar a noite inteira em claro para realizar essa etapa. Isso sem contar a exposição aos agrotóxicos e a própria nicotina da planta”, garante.

Para ele, os produtores só têm a ganhar com a diversificação da lavoura. “Eles passariam a ter mais uma fonte de renda e, principalmente, uma alternativa para uma vida melhor e mais saudável”, diz.

Ainda segundo Dera, eles podem ter uma margem bruta de lucro maior com outra atividade agrícola e que quem tiver interesse em saber mais sobre como diversificar a atividade, poderá contar com o apoio da Emater.

“A margem bruta do fumo é de R$ 1.623 por hectare. O pêssego, por exemplo, ele pode conseguir R$ 3.600 por hectare. Ou seja, mais lucro e menos problemas de saúde, já que o pêssego demanda menos agrotóxico”, conclui.

Produtores estão interessados em deixar o cultivo

Além do apoio dos governos federal e estadual, os próprios fumicultores parecem dispostos a deixar de lado o cultivo do fumo. Segundo informações do técnico em agropecuária do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ema,ter), Antônio Carlos Gera, uma pesquisa realizada pelo Departamento de Estudos Sócioeconômicos Rurais (Deser) mostra que 72% desses agricultores familiares desejam mudar de atividade agrícola, enquanto 20% pretendem deixar o fumo como uma segunda opção de atividade. Apenas 8% pretende seguir com a monocultura em suas propriedades.

“O produtor não acompanha a classificação na indústria e isso os deixa frustrados. Porém, eles querem buscar novos voos porque a atividade não é mais lucrativa como era no passado, e ainda tem a questão da saúde, já que a atividade é bem insalubre”, conta.

Durante o encontro realizado em Curitiba, que contou com cerca de 500 pessoas, foi ampliado o debate sobre essa diversificação da atividade. O secretário da agricultura e do abastecimento, Valter Bianchini, destacou a importância do evento.

“Buscamos conversar com os fumicultores sobre esse processo de buscar alternativas para esses agricultores. A ideia foi de mostrar saídas com melhor rendimento financeiro e menos nocivos à saúde deles”, informa.

Dados

O Paraná é o terceiro maior produtor de fumo do País. Responsável por 18% das 908 mil toneladas produzidas, numa área de 70 mil hectares, o Estado perde apenas para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Juntos, os estados do Sul produzem 96% de todo o fumo nacional e o restante é produzido no Nordeste, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo Gera, são 103 municípios paranaenses que produzem o fumo. Aproximadamente 34,1 mil famílias estão ligadas direta ou indiretamente à atividade.

A região do centro-sul, mais especificamente na microrregião de Irati, é a principal produtora, com 25% de toda a área plantada. Rio Azul é o município que detém a maior produção, responsável por 11,7 mil toneladas, seguido por São João do Triunfo, com 11 mil toneladas e Ipiranga, com nove mil toneladas.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna