Governos divergem quanto à flexibilização

A falta de consenso entre os governos estadual e federal, no que diz respeito à suspeita de febre aftosa no Paraná, ganhou mais um capítulo, agora, quanto ao início da flexibilização nas áreas de risco sanitário. Enquanto a Agência de Notícias do governo estadual exibia ontem matéria com o título ?Ministério reduz restrições de áreas suspeitas de febre aftosa no Paraná?, indicando que a flexibilização aconteceria já no início desta semana, matéria da Agência Estado afirmava que ?até todos os novos exames (211 no total) estarem concluídos em prazo ainda indefinido o governo federal manterá as medidas de interdição de fazendas e de proibição do comércio a partir das 36 cidades paranaenses?. Ou seja, nada mudaria por enquanto.

As informações divergentes saíram da reunião realizada no último sábado em Guariba, interior de São Paulo, na fazenda do ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Participaram da reunião o governador em exercício Orlando Pessuti, além de representantes do setor produtivo agropecuário e industrial, como a Faep, Ocepar, Sociedade Rural e o Fundepec.

A flexibilização nas áreas de risco sanitário já havia sido anunciada há uma semana, no dia 15, depois de uma reunião em Brasília da qual participaram técnicos da Defesa Sanitária da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento e membros do Ministério da Agricultura. Na ocasião, ficou acertado que o ministério flexibilizaria a Instrução Normativa 34, restringindo a proibição do trânsito e do comércio apenas a um raio de 10 quilômetros a partir das quatro propriedades rurais em que há suspeita de aftosa – em Loanda, Amaporã, Grandes Rios e Maringá. Em troca, exigia um relatório sobre as ações do Paraná no combate à doença.

Novos exames

O governo federal fará novos exames nos 211 animais do Paraná que tiveram trânsito de áreas com febre aftosa ou contato com bovinos do Mato Grosso do Sul. ??Serão examinados o líquido do esôfago e da faringe desses animais, porque normas internacionais admitem que é possível a permanência do vírus da aftosa nessas regiões do corpo por algum tempo sem que a doença se manifeste??, afirmou Rodrigues. ??A partir dos resultados negativos desses exames poderemos informar ao Brasil e ao mundo que não há focos da doença no Paraná??, acrescentou. A indefinição sobre a suspeita da doença no Estado já passa de um mês. Até agora, os exames deram negativo, mas o Ministério da Agricultura insiste em considerar o laudo inconclusivo.

Rodrigues informou que até todos os novos exames estarem concluídos em prazo ainda indefinido, o governo federal manterá as medidas de interdição de fazendas e de proibição do comércio a partir das 36 cidades paranaenses. ??As decisões serão mantidas como se houvesse o foco no Paraná e são para manter a credibilidade do País?, disse.

Divergências

Desde que surgiu a suspeita de foco de aftosa no Paraná, o governo estadual e o federal não se entendem. Primeiro foi o fato de o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) ter divulgado que no Paraná não havia focos da doença. O governo do Estado comemorou o resultado, mas, dois dias depois, o Ministério da Agricultura informou que o laudo era inconclusivo. Na semana passada, os ânimos se acirraram. O secretário da Agricultura em exercício, Newton Pohl Ribas, declarou que o governo do Paraná teria recebido dos técnicos do Ministério da Agricultura a ?sugestão? de assumir os focos de aftosa no Estado. O Ministério da Agricultura negou que tenha feito a proposta. Surgiram, então, informações sobre uma possível fraude feita por técnicos do Paraná, que teriam enviado ao Lanagro material de bezerros e não dos animais supostamente contaminados. O ministério, mais uma vez, negou que tivesse cogitado esta possibilidade. 

Produtores têm até o dia 30 para confirmar vacinação

Os pecuaristas do Paraná têm até o dia 30 de novembro para comprovar que vacinaram seus animais contra a febre aftosa. Coordenada pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, a Campanha de Vacinação contra a Febre Aftosa foi encerrada neste domingo (20). O governo do Estado espera que 100% do rebanho paranaense seja imunizado.

Em todo território paranaense existem mais de dez milhões de cabeças de gado. De acordo com o Departamento de Defesa e Fiscalização da Sanidade Agropecuária (Defis), 80% dos criadores já apresentaram a documentação de confirmação da vacina. Os números finais da imunização serão confirmados até o dia 30, quando termina o prazo para que os produtores apresentem a documentação comprovando a vacinação dos animais.

O diretor de Defesa Agropecuária, Felisberto Baptista, disse que a fiscalização será rigorosa. ?Os produtores que eventualmente não apresentarem a documentação para confirmar a vacinação serão autuados e terão que pagar multa por cada animal não vacinado?, disse. Segundo Baptista, o valor da multa é de R$ 72,88 por cabeça. Ele lembrou que em algumas regiões, como o noroeste do Paraná, há uma certa demora na entrega da documentação exigida. ?Isto ocorre devido às distâncias?, concluiu.

Embargo suspenso

O Ministério da Agricultura informou que Israel decidiu retomar as importações de carnes desossadas e miúdos do Brasil. Com isso, Israel é o primeiro país a suspender o embargo às carnes brasileiras, em vigor desde o início de outubro, quando foram detectados focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul. No entanto, a decisão de Israel não vale para os produtos originários do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.

Economia porca

O coordenador geral de Estudos Econômicos do Ministério da Agricultura, Régis Alimandro, classificou o ressurgimento da febre aftosa como um ?caso clássico de economia porca?. Segundo ele, as exportações de carne não deverão ultrapassar US$ 2,8 bilhões neste ano. A previsão inicial era de que elas atingissem a marca dos US$ 3 bilhões. ?O problema da aftosa é um caso clássico de economia porca, em que são poupadas dezenas de reais, colocando em risco centenas de milhões de dólares?, disse ele ontem, no 7.º Congresso Brasileiro de Agribusiness, no Rio.

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