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Gás natural para veículos: situação ainda normal. |
Rio (AE) – Distribuidores e grandes consumidores de gás natural começam agora a discutir quem arcará com os custos do racionamento do combustível definido pelo governo anteontem, em função do rompimento de um duto da Petrobras na Bolívia. De acordo com os contratos, o aumento de dispêndios provocado pela troca de combustíveis é responsabilidade dos consumidores, mas executivos de indústrias não pretendem pagar a conta sozinhos. Ainda não se discute a falta de gás natural como uso combustível em automóveis.
A partir da próxima terça-feira, cada distribuidora estadual terá que cortar em até 12% o seu consumo em relação à demanda de março. O Ministério de Minas e Energia confirmou a adoção do plano emergencial, mas garantiu que o racionamento não prejudicará o abastecimento de energia elétrica e não acarretará aumento de preços para os usuários finais.
O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Estado do Rio, Wagner Victer, sugeriu ao Ministério de Minas e Energia que determine à estatal a adoção de um sistema de descontos em substâncias alternativas ao gás, como o gás liquefeito de petróleo (GLP), o de cozinha e o óleo diesel. A empresa, no entanto, não parece disposta a assumir o prejuízo. A redução das entregas de gás deu-se por motivo de força maior e, assim, algumas cláusulas do contrato perdem a eficácia nesse período, afirmou uma fonte da companhia.
Ontem, o Ministério de Minas e Energia anunciou que as entregas de gás serão reduzidas nas regiões Sul e Sudeste, até que a Petrobras consiga retomar o transporte do combustível na Bolívia. Segundo o plano, haverá uma redução de 72% das entregas a usinas térmicas. A estatal diminuirá em 51% o consumo próprio em refinarias. Já as distribuidoras estaduais passam a receber até 12% a menos. A tendência, em todos os estados, é que o racionamento atinja, principalmente, indústrias que possam usar outros combustíveis. O governo do Rio, por exemplo, definiu que os mercados residencial e veicular não podem ser afetados.
?O problema é entre a Petrobras e as distribuidoras. Não podemos pagar por isso?, diz um executivo de uma grande indústria paulista, que foi informado, extra-oficialmente, que será obrigado a mudar de combustível. Ele espera que, amanhã, a empresa dele seja chamada a negociar os novos termos com a Companhia de Gás de São Paulo (Comgás).
Victer informou que técnicos da CEG entraram em contato com os maiores consumidores de gás do estado do Rio para discutir o racionamento. Segundo ele, o governo do estado tem um plano de contingência que prevê o corte em até oito grandes clientes, entre eles a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). ?Não é justo que o consumidor, que não tem nada a ver com isso, pague pela imprevidência da Petrobras?, reclama o secretário.
Ele lembra que o governo suspendeu a elaboração de um plano de contingenciamento iniciado em 2005, quando manifestantes bolivianos tomaram instalações petrolíferas no país. Na época, o governo reuniu-se com distribuidoras e Petrobras para definir um programa de cortes, que não ocorreu porque a situação na Bolívia se normalizou rapidamente. ?É a segunda vez que isso acontece e ainda não temos um plano nacional de emergência?, diz.