Governo e oposição tiveram no final da manhã uma rodada de negociação em torno da votação, na Câmara, da medida provisória que reajusta as aposentadorias com valor acima de um salário mínimo pagas pela Previdência Social. A MP deverá ser votada em sessão hoje à tarde no plenário da Câmara. O ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, mostrou os dados do impacto do reajuste nos cofres públicos em reunião com os líderes do PSDB, João Almeida (BA), do DEM, Paulo Bornhausen (SC) e do PPS, Fernando Coruja (SC).
O governo busca o apoio de partidos de oposição para aprovar o índice de 7%, com o qual concorda o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A oposição nutre a expectativa de assumir a presidência da República no próximo ano com o candidato tucano, José Serra, e não quer aprovar um aumento que provoque forte impacto nas contas da Previdência e comprometa o equilíbrio fiscal do governo.
Nos bastidores, a oposição demonstra disposição em ajudar na aprovação dos 7%, mas considera que o governo não mostra posição firme com a sua base. Na saída, os líderes de oposição não sabiam ainda o que o governo conseguiria na votação prevista para hoje. “O governo está enrolado”, disse Bornhausen. “O ministro mostrou que tem responsabilidade fiscal. Eu também tenho, mas a base tem de chegar a um acordo”, disse o líder do DEM. Ele criticou o governo por ter negociado, primeiramente, o índice com as centrais, sem ter levado o debate ao Congresso.
O governo alega não ter condições para pagar aos aposentados um reajuste muito acima da proposta original da MP, os 6,14%. O reajuste para 7% aumenta a conta em R$ 1,1 bilhão e, se o índice for de 7,7%, mais R$ 700 milhões. Gabas e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que reuniu os líderes da oposição com o ministro nesta manhã, vão se encontrar com os líderes dos partidos da base antes da votação.
Os líderes aliados na Câmara insistem na posição de votar um índice acordado com os senadores. Eles não querem ver os senadores aparecendo como responsáveis por dar um aumento maior para os aposentados do que os deputados, assunto de potencial impacto político em ano eleitoral. Líderes da base no Senado afirmaram que votarão no índice de 7,7%.
“Vamos votar como no Senado. Essa posição não vai mudar”, afirmou o líder do PSB, deputado Rodrigo Rollemberg (DF). Neste cenário, o PMDB, maior partido, será decisivo. A votação tenderá a ser resolvida para o lado em que o partido pender. Até agora, o líder peemedebista no Senado, Renan Calheiros (AL), mantém o apoio aos 7,7%. Vaccarezza espera convencer pelo menos parte da bancada do PMDB na Câmara para votar a favor do índice menor, de 7%. Vaccarezza, também relator da MP, reconhece a grande dificuldade em aprovar esse índice, colocado em seu parecer. “Trabalho com a pequena chance de vencer”, disse o líder.