Funcionários da Varig (Viação Aérea Rio-grandense) realizaram ontem, em vários aeroportos do País, manifestação de protesto pelo que chamam de ?indiferença? do governo à situação de pré-falência da empresa. Um grupo deles foi a Brasilia e realizou manifestação diante do Congresso e do Palácio do Planalto. O governo recebeu uma comissão de representantes dos funcionários, mas continua defendendo solução privada para a situação da empresa, ?sem a injeção de recursos públicos?.
Quem transmitiu a informação aos trabalhadores foi a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef. Segundo ela, ?qualquer solução que não implique gasto de dinheiro público é sempre favorável?. Assim como já havia feito o ministro Luiz Marinho (Trabalho) pela manhã, Dilma também cobrou dos representantes da empresa mais clareza no plano de recuperação. ?A Varig não é uma empresa estatal. Nós (o governo) necessitamos de acesso a dados? afirmou ela.
A Varig negocia de todos os lados. Na semana passada, pediu a seus fornecedores uma linha de crédito de US$ 200 milhões para que possa arcar com suas despesas correntes. Desse total, US$ 70 milhões seriam concedidos por estatais como a BR Distribuidora e a Infraero.
A empresa tem mais de 10 mil funcionários, mas não tem dinheiro para honrar dívidas estimadas em R$ 7 bilhões nem recursos para arcar com as despesas correntes, como combustíveis e salários. O ministro do Trabalho disse acreditar que caso a empresa pare de voar, o setor aéreo é capaz de absorver essa mão-de-obra. ?Esperamos que as outras empresas assumam os vôos e portanto aumentem as suas aeronaves e absorvam esse pessoal?, disse o ministro.
Solução
Na solução do problema está, também, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O presidente da Varig disse que está negociando um empréstimo para a empresa. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que já foi presidente do banco, também foi enfático: ?Não é papel do governo socorrer? a companhia.
Outra alternativa, que previa fazer um acordo de compartilhamento de vôos com a OceanAir, foi vetada anteontem à noite pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Já a proposta apresentada pela VarigLog, sua ex-subsidiária de transporte de cargas, não foi bem-vista pelos credores e trabalhadores da empresa. A proposta ainda poderá ser aprovada, mas trabalhadores criticaram a previsão de demissão de mais de 5 mil funcionários que faz parte do plano.
Três pedidos que podem salvar a empresa aérea
Brasília (ABr) – Acompanhados de um grupo de cerca de dez parlamentares, os funcionários da Varig entregaram ao Palácio do Planalto documento dirigido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O texto é assinado pela organização Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), que reúne quatro associações e quatro sindicatos.
A TGV faz três pedidos a Lula. O primeiro é o adiamento por cinco meses do pagamento das taxas aeroportuárias da empresa para a Infraero. O segundo pedido é o prazo de dois meses para o pagamento de combustíveis para a estatal BR Distribuidora.
Por último, a TGV pede autorização da Secretaria de Previdência Complementar para emprestar dinheiro do fundo de pensão dos funcionários da Varig para a própria empresa. Querem utilizar até US$ 150 milhões para uso na recuperação da companhia. Desse total, US$ 30 milhões seriam usados para a indenização dos funcionários demitidos e pelo menos US$ 70 seriam utilizados para colocar de dez a 15 aeronaves em operação.
?Não assistiremos a Varig morrer?, disse Márcio Marsiolac, coordenador da TGV. O vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), era um dos parlamentares presentes. Segundo ele, a ajuda do governo não seria inútil, já que a empresa agora é administrada por uma gestão eleita pelos próprios credores.
?É um absurdo faltar o apoio de um dos credores da empresa, que é o próprio governo?, disse Beto. O deputado afirma que a União é o poder concedente da aviação e que a responsabilidade financeira pela falência seria, em última instância, da própria União.