A venda de aviões da Embraer estará entre as prioridades do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na visita que fará a Pequim a partir de amanhã, mas há dúvidas sobre o futuro do modelo de negócios da empresa brasileira na China, onde ela possui uma fábrica para produção de jatos regionais em parceria com a estatal AVIC.
O objetivo de Lula será garantir a entrega de 50 aviões modelo E-190 produzidos pela Embraer no Brasil e encomendados pela chinesa Hainan Airlines em 2006. Com a crise econômica global, Pequim ordenou às companhias aéreas que suspendessem as compras de aeronaves estrangeiras, o que afetou a Embraer.
Na visita, o presidente brasileiro vai tentar obter um compromisso dos chineses de que as vendas anunciadas serão realizadas. A situação é mais complicada para o modelo de menor porte fabricado pela Embraer e a AVIC em Harbin, no nordeste da China. O ERJ-145 tem capacidade para 50 lugares e começou a ser produzido no país asiático em 2003.
Em 2006, a Hainan Airlines também anunciou a compra de 50 aeronaves ERJ-145, junto com 50 aviões E-190, que tem capacidade para até 120 lugares. No total, o contrato tinha valor de US$ 2,7 bilhões. No dia 4 de maio, a Embraer e a Hainan Airlines chegaram a um acordo para reduzir de 50 para 25 o número de unidades ERJ-145 previstas no contrato de 2006. Com isso, a fábrica de Harbin terá encomendas até a metade de 2011.
Além da venda para a Hainan Airlines, a Embraer vendeu no ano passado cinco jatos E-190 fabricados no Brasil para a Kun Peng Airlines, em contrato de US$ 187,5 milhões.
Na avaliação do embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, o principal problema da associação entre a Embraer e a AVIC em Harbin é o modelo de aeronave fabricada, que não atenderia às necessidades do mercado chinês. “As companhias locais estão se orientando para aviões de maior porte”, disse Hugueney ao Estado na quinta-feira. Segundo ele, os modelos E-190 e o E-170 respondem de maneira mais apropriada à demanda chinesa.
Fontes declararam ao jornal O Estado de S.Paulo que a AVIC pressiona a Embraer para fabricar o E-170 ou o E-190 em Harbin, mas isso não está nos planos da empresa brasileira. Hugueney afirmou que esta é uma questão privada, que terá de ser decidida pelas empresas.
A China se transformou no ano passado no maior mercado para a Embraer depois dos Estados Unidos, e os aviões apareceram pela primeira vez entre os dez principais produtos de exportação do Brasil para o país asiático. No total, a venda de aeronaves para a China em 2008 foi de US$ 204,6 milhões, graças às entregas de E-190 para a Hainan Airlines. O valor representa menos de 10% dos US$ 2,32 bilhões vendidos para os Estados Unidos no mesmo período, mas está bem acima dos meros US$ 24 mil destinados à própria China em 2007.