Foto: José Cruz/Agência Brasil |
Mantega: Brasil entrará, a partir do ano que vem, em ciclo de expansão acelerada da economia. |
Em busca do déficit nominal zero, o governo pretende, já a partir de 2007, estabelecer um redutor de gastos correntes sobre o Orçamento. Levando em conta uma eventual continuidade do governo Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, detalhou ontem o objetivo da medida: reduzir, a cada ano, de 0,1 a 0,2 ponto porcentual os gastos correntes, que representam atualmente 17,6% do Produto Interno Bruto (PIB). O objetivo é que este porcentual caia progressivamente.
O ministro esclareceu que, já no ano que vem, independente do redutor de gastos estar previsto ou não na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o governo poderá aplicá-lo ?só na órbita administrativa, se decidir gastar um pouco menos?. Ele explicou que a adoção efetiva do redutor em 2007 dependerá de um estudo do orçamento e das suas disponibilidades. ?Se não for possível, colocaremos (o redutor) para 2008.?
O ministro afirmou que ?como o PIB vai crescendo, os gastos vão sendo contidos sem grande esforço e sem desativar os programas sociais?. Ele disse, em palestra para empresários do setor de petróleo, que o País está no caminho do déficit nominal zero, que será alcançado com a redução dos juros, queda dos gastos correntes, crescimento econômico e geração contínua de superávits primários.
A proposta do déficit zerado consiste em gerar superávit suficiente para pagar os juros da dívida, garantindo o crescimento sustentado, sem inflação e sem aumento da taxa de juros. Para chegar a esse cenário, Mantega projeta uma expansão anual do PIB de 5% para os ?próximos anos?, assim como a manutenção da meta atual de 4,25% de superávit primário e, ainda, queda dos gastos financeiros do governo de 8% do PIB para 4%, com o recuo da taxa Selic nominal para o patamar de 9% ?em razoável horizonte de tempo?. Hoje, a taxa é de 13,75%.
Crescimento
Mantega disse reiteradas vezes na palestra que o Brasil está deixando para trás, já em 2006, uma longa fase de crescimento moderado e entrará, a partir do ano que vem, em ciclo de expansão acelerada da economia. Para ele, a política monetária rígida que manteve os juros elevados por um longo período foi, na verdade, uma espécie de ?poupança? para o crescimento, que valerá a partir do ano que vem.
O ministro, que chegou a prever várias vezes, recentemente, um crescimento do PIB de 4% em 2006, acima até mesmo das previsões do Banco Central (3,5%), abriu mão de antever qual será o resultado final da economia no ano. ?No segundo semestre estamos crescendo mais de 4%?, disse, acrescentando que não sabe qual será o crescimento final neste ano. ?Isso não é relevante?, chegou a dizer.
Irrelevantes também são, para o ministro, as especulações em torno da sua permanência ou não à frente do Ministério, ?tema que não está em pauta?. Segundo ele, ?só depois de reeleito, se reeleito, Lula vai pensar na equipe. Só ele terá a autoridade?.
Indagado se os encontros que manteve esta semana com o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, teriam alguma relação com possíveis trocas de cargos no Ministério, Mantega respondeu: ?Já me reuni várias vezes com Delfim, nosso interlocutor há muito tempo, e Pimentel é um interlocutor há anos, somos economistas, temos pensamento afiado e desenvolvimentista.?
Diretor do Bird estima crescimento entre 4% e 5%
São Paulo (AE) – Para o diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no Banco Mundial (Bird) em Washington, Otaviano Canuto, é possível que o PIB brasileira cresça de 4% a 5% nos próximos anos. Segundo ele, a chave para um crescimento mais vigoroso está nos investimentos.
?O próximo governo vai aproveitar para ver o que é possível fazer para readequar investimentos no gasto público. É possível melhorar a qualidade do gasto público?, afirmou ontem, em entrevista. Além das despesas públicas, Canuto frisou que será importante melhorar o quadro regulatório do País o que incentivará melhorias em infra-estrutura.
Canuto disse que a economia brasileira vai ter o centro do crescimento deslocado para a ?dinâmica doméstica?. ?Portanto, o cenário internacional, naquilo que nos interessa no momento, vai continuar favorável. O peso relativo da expansão do consumo doméstico vai ser um pouco maior do que nos últimos anos.?
Isso significa dizer, segundo Canuto, que não deve haver grande preocupação se as exportações vão diminuir ou os superávits da balança comercial poderão ser menores. ?A economia pode conviver muito bem com um saldo comercial menor do que nos últimos anos?, avaliou.
Sobre os juros, Canuto se negou a fazer previsões. ?A velocidade, o timing dos juros não se definem só pelo achismo. Há uma obsessão com a Selic. Acho que o foco está errado?, criticou.
Para ele, o cenário é favorável para a queda dos juros, sem mais riscos de perder o controle inflacionário, mas o tema não pode ser transformado em objetivo de política. ?O crescimento de 5% depende menos de taxas de juros e mais de investimentos?, explicou. O diretor do Bird disse ainda acreditar que o próximo governo terá condições de fazer as reformas da Previdência e Tributária. ?Há convergência de visões sobre o que é preciso ser feito?.
Emergentes
Os países emergentes, como é o caso do Brasil, estão menos dependentes do Banco Mundial (Bird), segundo Canuto. Ao contrário das décadas passadas, o Brasil e países como México e Chile têm dinheiro em caixa e uma necessidade cada vez menor de empréstimos.
?Hoje a importância é cada vez menor como supridor de dinheiro. A relação entre países de renda média tende a evoluir para parcerias?, afirmou. Segundo ele, os trabalhos do Bird com o Brasil estão mais na direção de transferência de tecnologia. A função de financiador agora está direcionada mais para países de renda baixa. Ainda assim, o Bird deve fechar o ano com carteira de financiamento de US$ 1,2 bilhões destinados ao Brasil, de acordo com o diretor.