O Ministério da Agricultura poderá anunciar nas próximas semanas apoio à comercialização de milho caso os preços do cereal se mantenham abaixo do mínimo de garantia no Centro-Oeste, maior produtora de segunda safra. No entanto, apesar da sinalização, os leilões devem ocorrer a partir de agosto, quando, segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério, Seneri Paludo, o governo terá uma avaliação mais clara da safrinha, ainda em fase inicial de colheita. “Se o ministério achar necessário, pode fazer o anúncio em julho, mas é muito difícil implementar (leilões) ainda no mês”, disse Paludo em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.

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O apoio à comercialização pode envolver desde contratos de opção de venda futura, aquisições diretas a leilões de prêmios para estimular o escoamento do grão da região produtora para áreas de consumo, mas a tendência é de que, assim como ocorreu em 2013, a opção seja por Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro). Algumas entidades do setor produtivo afirmam ser imprescindível essa intervenção governamental para não desestimular o plantio do cereal já que a tendência é de preços mais baixos no segundo semestre e menor demanda para exportação.

De acordo com Paludo, o ministério avalia o volume que será necessário apoiar, considerando que a safra deve chegar a 43,759 milhões de toneladas, na estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O montante de recursos que será destinado à operação tampouco está definido, ainda que o ministro Neri Geller já tenha afirmado que R$ 5,6 bilhões estão disponíveis para o Programa de Garantia de Preço Mínimo (PGPM) neste ano.

Na prática, tanto o governo quanto o setor produtivo esperavam redução mais significativa de produção do que os 6,8% estimados pela Conab na comparação com a safra passada, quando produtores colheram 46,928 milhões de toneladas. A colheita menor poderia afastar a necessidade intervenção no mercado. Na temporada passada, os preços ficaram abaixo do mínimo durante todo o período de safra, chegando a R$ 9/saca no Médio-Norte de Mato Grosso, ante mínimo de garantia de R$ 13,02/saca na época. O governo ajudou a escoar pelo menos 10 milhões de toneladas por meio de leilões de contratos de opção, Pepro e compras dentro do programa de Aquisição do Governo Federal (AGF) para a formação de estoque regulador, tentando garantir a remuneração mínima. Hoje, produtores do Médio-Norte de Mato Grosso vendem milho a R$ 12,50/saca. Em Mato Grosso do Sul, as indicações de compra para julho, pico da safra, estão em R$ 17/saca e em Goiás, a R$ 17,50/saca para agosto. Nos dois Estados, o mínimo de garantia do governo é de R$ 17,56/saca.

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A redução de área foi de 3,9%, segundo a Conab, para 8,692 milhões de hectares em todo o País, mas mesmo em Estados em que produtores optaram por culturas com maior perspectiva de rentabilidade o clima favorável impulsiona o tamanho da safra. É o caso do Paraná, que reduziu a área plantada em 12,1%, para 1,905 milhão de hectares, mas a safra ainda será de 9,97 milhões de toneladas (-3%). Na safrinha do último inverno, o Estado havia cultivado 2,169 milhões de hectares e colhido 10,485 milhões de toneladas. Mato Grosso reduziu área em 5,8%, para 3,155 milhões de hectares, e a produção deverá ser 14,4% menor, de 16,564 milhões de toneladas.

“A expectativa desse ano era de redução de área plantada e, com isso, talvez não precisasse de intervenção. As produtividades surpreenderam e isso, lógico, gera pressão sobre os preços”, complementou Paludo.

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Leonardo Machado, técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), afirmou que alguns Estados, a exemplo de Goiás, devem compensar a redução de área registrada em Mato Grosso e Paraná, os dois maiores produtores de milho safrinha do País, o que explica a queda dos preços. “Só não vai ter produção recorde porque houve redução de tecnologia”, disse.

Machado afirmou que as conversas da CNA com o Ministério da Agricultura ainda são informais, mas, pelas estimativas da entidade, o governo precisaria apoiar a comercialização de cerca de 10 milhões de toneladas, volume semelhante ao do ano passado. A mudança, no entanto, deve ser o aumento de recursos para Goiás e Mato Grosso do Sul, ainda conforme Machado. Ele pondera, ainda, que, além dos leilões de Pepro, o governo precisará comprar milho para estoques públicos, hoje em 1,728 milhão de toneladas, já que a Conab continua escoando cereal para a região da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). “O governo não deve fugir do Pepro e deve fazer aquisição de estoques, como no ano passado”, completou.

O presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), Maurício Saito, informou que, numa estimativa “conservadora”, a produção do Estado deve alcançar 7,5 milhões de toneladas, abaixo das 7,8 milhões de toneladas colhidas na safrinha de 2013. “Houve uma diminuição de tecnologia de produção, mas o clima compensou. Não registramos geadas neste ano e não tivemos ataque de pragas”, explicou. O executivo observou que entidade espera a colheita ganhar ritmo, a partir de 10 de julho, para ter dimensão mais clara do tamanho da safra e então apresentar uma proposta de apoio à comercialização ao governo. “Tudo vai depender da evolução de colheita e se diminuir porcentual de exportação vai impactar no preço ao produtor”, completou.

DEMANDA INTERNACIONAL

O setor produtivo tem mostrado preocupação com a possível diminuição da demanda internacional para o milho brasileiro, mas representantes afirmaram que o Pepro deve ser suficiente para garantir o ritmo dos embarques. As exportações são fundamentais para enxugar o excesso de produção, especialmente em Mato Grosso, que consome cerca de 4 milhões de toneladas de milho por ano, ante previsão de produção de mais de 16 milhões de toneladas.

O temor é de que, após a seca de 2012 nos Estados Unidos, que fez o país perder cerca de 100 milhões de toneladas de produção e abriu espaço para exportações brasileiras, os norte-americanos devem recuperar mercado na temporada 2014/15, após segundo ano consecutivo de safra recorde no país, de mais de 350 milhões de toneladas.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que os embarques no primeiro semestre estão diminuindo. As vendas brasileiras ao exterior recuaram 35,5%, para 7,875 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a maio. Fontes do mercado estimam que no mês de junho a redução pode ultrapassar 60%. Apesar do recuo, tradicionalmente as exportações brasileiras de milho se concentram no segundo semestre do ano.