Governo obtém vitória e mantém reforma intacta

Brasília  – O governo conseguiu quase tudo o que queria, ontem, na Comissão Especial da Reforma Tributária. Todas as propostas da base aliada foram retiradas o que permitiu agilizar a votação e a derrubada dos destaques. A reunião foi interrompida às 16h para que entrasse em votação outra reforma, a da Previdência, que faria parte da ordem do dia, e que acabou sendo transferida para hoje. Os trabalhos da comissão retomaram às 19h30, e apenas referendaram a derrubada de outro destaque apresentado pelo PFL, que pretendia incluir na reforma a partilha dos tributos federais com estados e municípios. A vitória só não foi totalmente completa porque o governo vai enfrentar, a partir de agora, um “caminhão” de ações dentro e fora do Congresso contra pontos da Reforma. Agora, o projeto será encaminhado ao plenário da Câmara.

Um dos destaques da bancada do PSDB rejeitado pela base aliada pedia a ampliação do Simples para a União, estados e municípios. O outro, rejeitado dos tucanos, buscava proibir a edição de medida provisória em matéria tributária, exceto em relação a impostos de importação e exportação. O terceiro destaque do PSDB previa modificações nas regras para o ICMS estabelecidas no texto do relator. Já um destaque rejeitado do PFL buscava estabelecer que “ninguém será processado penalmente antes de encerrado o processo administrativo tributário que aprecie a matéria da denúncia”. O outro do PFL vedava a cobrança de contribuições sociais sobre a receita ou faturamento da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Antes de começar a votar os destaques apresentados pelas bancadas da oposição, a comissão rejeitou em bloco os 238 destaques individuais, apresentados em separados pelos deputados, ao relatório do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG).

Zona Franca

Os integrantes da Comissão Especial das reformas discutiram durante duas horas a manutenção dos incentivos fiscais à Zona Franca de Manaus até 2023, mas acabaram aprovando por unanimidade a complementação do relatório do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), que mantém por mais 10 anos os incentivos fiscais para a região.

Respondendo às críticas dos opositores da manutenção dos incentivos fiscais para a região, o deputado Lutercio Ramos (PPS-AM) informou que a Zona Franca de Manaus fatura anualmente U$ 10 bilhões, recebe de incentivos fiscais US$ 3 bilhões e paga de impostos US$ 2,7 bilhões. “Para cada real de incentivo a Zona Franca de Manaus devolve R$ 0,96 centavos em tributos”, destacou.

Acordo

Um acordo fechado pelos líderes dos partidos na Comissão Especial da reforma tributária garantiu a manutenção de incentivos fiscais de impostos federais às empresas de informática e permitiu o início da sessão na manhã de ontem.

A emenda, assinada por todos os líderes, será votada no plenário, prorrogando de 2009 para 2019 o desconto dado no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) das empresas do setor de informática. O desconto é de 10% a 15%, tendo como contrapartida o compromisso das empresas de investirem 5% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento.

O governo enfrentará até a semana que vem um intenso lobby dos governadores e prefeitos para que ceda uma parcela de suas receitas, seja pelo repasse de 25% da contribuição sobre combustíveis (Cide), seja pela ampliação das compensações pelas perdas que os estados têm com a desoneração das exportações.

E deve reagir à campanha contra o aumento da carga tributária propondo que o Congresso já defina não só um teto de 25% para as alíquotas do ICMS como também o enquadramento dos principais produtos. A princípio, essa era uma atribuição do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne representantes dos estados, mas os líderes governistas querem puxar a definição para o Congresso como forma de pressionar também os governadores. “Se todo mundo é contra o aumento da carga tributária, por que não fazermos isso já no Congresso”, desafiou ontem o vice-líder do PT na Câmara, Paulo Bernardo (PR).

Documento garante que carga não vai aumentar

Brasília 

– O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, reafirmou ontem que não há motivos para desconfiar que a proposta de reforma tributária irá aumentar a carga de impostos do País, pois, segundo ele, os documentos assinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os governadores reforçam essa crença. “Existem dois documentos assinados pelo presidente da República e pelos governadores (onde está afirmado) de que não haverá aumento de carga tributária. Não vejo motivo para haver qualquer desconfiança de documentos tão objetivos como esse”, afirmou Palocci.

O ministro frisou que não se pode esperar uma “revolução” com a proposta de reforma tributária. “Não é uma revolução tributária, é uma reforma. Mas se você tomar a desoneração da exportação, o fim da cumulatividade da Cofins e a redução em impostos em bens de capital, pode perguntar a qualquer empresa brasileira se ela acha isso positivo ou negativo”, disse.

Palocci disse que considera as críticas naturais. “Até que a reforma seja concluída, todos que arrecadam vão querer arrecadar mais e todos que pagam vão querer pagar menos. Quando você fala em tributos o debate é conflituoso. Sempre é assim, por isso há dez anos não se consegue fazer uma reforma tributária. Agora estamos conseguindo fazê-la. Começamos a aprová-la. Vamos aprová-la na Câmara e depois no Senado e todos vão ver que essa é uma reforma que não busca aumentar a arrecadação, busca dar uma melhoria para a economia e para as pessoas”, analisou.

O ministro repetiu que não haverá aumento de impostos pagos por pessoas físicas ou jurídicas, nem será ampliada a carga tributária para a União, que, pelo contrário, “está criando um fundo de desenvolvimento que vai transferir tributos e também está transferindo o ITR para os Estados”. Para Palocci, a reforma tributária trará alterações importantes para a população em geral. “Há alterações importantes para a pessoa física. A primeira é a diminuição da tributação sobre consumo popular e a garantia da renda mínima”, disse.

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