Governo não deve reduzir o álcool na gasolina

Ribeirão Preto, SP (AE) – As ameaças feitas sexta-feira (5) pelo ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, de que o governo poderia reduzir a mistura do álcool anidro à gasolina, hoje em 23%, não abalaram o setor produtivo do combustível. Os usineiros duvidam que o governo cumpra a decisão mesmo se o preço do álcool hidratado continuar subindo nas unidades produtoras e aos consumidores.

Eles avaliam que a decisão seria um desastre político. ?Seria um tiro no pé, pois a primeira coisa a acontecer seria o aumento do preço da gasolina, que gera muito mais inflação?, afirmou um representante da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), principal entidade do setor. Por lei, a mistura pode variar de 20% a 25%.

A redução da mistura não iria impedir o avanço do preço do hidratado, utilizado nos veículos a álcool e flex fuel, pois os estoques de ambos os combustíveis são suficientes para a entressafra. A redução na mistura do anidro poderia, por outro lado, aquecer a exportação desse tipo de álcool combustível, como ocorreu em janeiro de 2006.

Para se proteger das críticas, a Unica prepara um levantamento para ser divulgado hoje, no qual pretende mostrar que os preços do álcool nos postos de combustível subiram mais do que os das usinas desde dezembro. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), o preço médio do litro do hidratado avançou 16,26% entre a última semana de novembro e sexta-feira, saltando de R$ 0,74659 para R$ 0,86799 nas usinas paulistas. Nos postos, o aumento mínimo teria sido de 20% no período.

O usineiro Maurílio Biagi Filho cobrou novamente do governo um estoque estratégico de álcool, que poderia ser comercializado durante a entressafra de cana-de-açúcar, forçando a queda nos preços. ?O governo deveria fazer estoque, não faz e aí fica sem moral e rosnando?, disse Biagi. ?O governo e o consumidor sabiam que o preço do álcool aumentaria na entressafra como cairia na safra, mas não há razão para que aconteça um aumento tão grande como ocorreu em 2006?, completou.

Na sexta-feira, a Unica divulgou nota na qual relata que em comparação com igual período do ano passado, quando o litro do hidratado custava R$ 1,03484 e o do anidro valia R$ 1,08401, houve queda de 16,1% e 19,0%, respectivamente, na semana passada nas usinas.

Perda

Em plena escalada do preço do álcool combustível, o Ministério da Agricultura sofreu uma baixa com saída do presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool do Conselho do Agronegócio (Consagro), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, que pediu demissão do cargo consultivo.

O pedido foi feito ao ministro Luís Carlos Guedes Pinto entre o final de novembro e o início de dezembro, mas Carvalho foi convencido a ficar no cargo até o final do ano passado, pois estava prevista reforma ministerial, que ainda não aconteceu, para o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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