Governo não compra e dólar volta a cair

O dólar caiu pelo terceiro dia consecutivo com a pausa nas intervenções do governo, a previsão de nova alta dos juros e a expectativa de entrada de recursos captados por empresas no exterior. Com leve baixa de 0,14%, a moeda norte-americana encerrou vendida a R$ 2,717. O recuo só não foi maior devido ao clima de cautela no mercado internacional, onde o preço elevado do petróleo reforça apostas em uma alta agressiva dos juros nos EUA.

O mercado aguarda com ansiedade na próxima terça-feira o anúncio do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) sobre os juros e o dado de fevereiro da inflação ao produtor (PPI). Na quinta-feira, no Brasil, sai a ata do Copom (Comitê de Política Monetária).

BC ausente

Pelo segundo dia, o BC deixou de fazer leilão de compra de dólar. Na quarta-feira passada, já havia cancelado o leilão semanal de ?swap reverso? – contrato cambial que pressiona a cotação por ter o efeito de uma compra de divisa no mercado futuro.

Segundo operadores, a ausência do BC é um sinal de que o governo não quer ver a moeda americana na casa de R$ 2,80. Na terça-feira, quando houve à noite o anúncio da suspensão do leilão de ?swap reverso?, o dólar havia batido máxima de R$ 2,771, com gás para testar R$ 2,80.

No começo de março, a atuação do BC nos leilões de compra de divisas se tornou mais agressiva, o que fez a moeda subir sete dias seguidos. Isso ocorreu após o dólar ter recuado em fevereiro para mínima de R$ 2,55, o que motivou críticas dos exportadores ao governo.

Juro atraente

Na quarta-feira, o Copom subiu os juros em 0,50 ponto percentual, de 18,75% para 19,25% ao ano, nível mais alto desde setembro de 2003. Foi a sétima alta seguida. Contrariando expectativas, o BC não deu sinais de que pretenda interromper essa trajetória de alta.

Novas altas de juros tornariam os títulos brasileiros de renda fixa mais atrativos para os investidores estrangeiros. Para comprar esses papéis, eles precisam vender dólares, o que eleva a oferta de divisas no mercado e, por isso, favorece a queda da cotação.

Nesta semana as notícias sobre captações externas também voltaram ao mercado de câmbio com força total, mesmo depois da forte alta nesta semana do risco-Brasil -indicador que baliza o custo desse tipo de operação lá fora.

Há rumores de que estão no forno emissões da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Votorantim, Braskem e Camargo Correa, segundo a IFR (International Financing Review), publicação técnica que acompanha esse mercado.

Fed agressivo?

O mercado internacional também especulou sobre a reunião do Fed. Há a expectativa de nova alta (a sétima) de 0,25 ponto percentual na taxa, hoje fixada em 2,5%.

Mais importante do que a decisão será o tom que o Fed vai adotar no seu comunicado. Analistas especulam que a nota deve sinalizar uma alta mais agressiva (de 0,50 ponto percentual) dos juros nas próximas reuniões, a fim de conter pressões inflacionárias, como o petróleo mais caro.

Esse recado seria mandado pelo Fed com a retirada da palavra ?moderado? (em inglês, ?measured?), usada nas notas anteriores para se referir ao ritmo gradual da política de acomodação dos juros.

Neste mês, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de dez anos subiram com força, superando 4,50%. Essa remuneração atrai o apetite dos grandes investidores, que ficam tentados a reduzir suas aplicações em países emergentes.

Caso os EUA passem a elevar seus juros em 0,50 ponto percentual, os bancos podem acelerar as vendas de papéis (títulos da dívida, ações e outros ativos) de emergentes, como o Brasil, o que pode provocar turbulências nesses mercados. Uma saída brusca de capital tende a pressionar a cotação do dólar diante do real.

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