Brasília
(AE) – Exatamente três anos após implementar o regime de metas de inflação, o governo fez uma correção de rumo no indicador que norteia a política de juros no Brasil. A meta de 3,25% fixada para 2003 foi elevada para 4% e o intervalo de variação para mais ou para menos passará de 2 para 2,5 pontos percentuais. Com isso, o teto para inflação do ano que vem sobe de 5,25% para 6,5%. Já para 2004, a meta central foi definida em 3,75%, com o mesmo espaço de oscilação.Na prática, o ajuste feito pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) dá uma folga para o Banco Central acomodar os reflexos da crise financeira deste ano que deverão se propagar nos próximos 12 a 18 meses e reduzir juros. “Para este ano, não estamos mudando nada”, enfatizou o ministro da Fazenda, Pedro Malan. “Não faria sentido fazer alteração na metade do ano”, completou.
Diante da turbulência vivida neste ano e do impacto da persistente alta do dólar nos índices de preço, o Brasil corre o risco de não cumprir a meta deste ano, fixada em 3,5%, com teto de 5,5%. No entanto, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirma que o governo está trabalhando com uma inflação de 5,5% para 2002, ainda dentro do intervalo.
Algumas projeções feitas pelo mercado financeiro apontam um índice próximo a 5,8%, superior ao valor máximo estabelecido.
Se isso se confirmar, este será o segundo ano consecutivo de descumprimento da meta determinada já que, em 2001, o índice que serve de referência para o sistema (IPCA) ultrapassou em 1,67 ponto o teto permitido.
O principal argumento usado para justificar as modificações efetuadas, segundo Goldfajn, é o fato de o Brasil, por ser uma economia em desenvolvimento, estar mais sujeito a choques do que outros países que adotam o mesmo sistema. “Como temos uma volatilidade maior, temos de reconsiderar o tamanho da banda”, afirmou o diretor, citando a oscilação no mercado de câmbio, os preços agrícolas e de petróleo como exemplos de choques que prejudicam o País.
Segundo o ministro Malan, além disso, o Brasil precisa ter um intervalo de variação maior do que o de outras economias porque não trabalha com núcleo de inflação e nem expurga qualquer tipo de preço do índice que serve de referência. “É perfeitamente razoável uma margem de tolerância maior para levar em conta a intensidade do choque sem ter de responder imediatamente ante de saber o impacto dele”, disse o ministro, após citar vários países como Chile, Inglaterra, Israel e República Tcheca, que adotam o mesmo sistema e também revisaram os intervalos e as metas.
Ele fez questão de ressaltar que as mudanças não foram previamente negociadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Não houve qualquer consulta formal ou informal a qualquer pessoa fora do núcleo base do governo. O FMI vai tomar conhecimento da decisão por vocês”, garantiu aos jornalistas.
Juros
Apesar de cauteloso ao comentar sobre a possibilidade de redução dos juros, o diretor do BC admitiu que as alterações podem facilitar a condução da política monetária. “Na medida que o cenário básico se materialize, na ausência de turbulências exageradas e prolongadas, haverá espaço para queda de juros”, disse Goldfajn. Segundo ele, a taxa de juros atual de 18,5% ao ano não é a ideal para o País no longo prazo.
Esta semana, em palestra com investidores internacionais o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse que a previsão de crescimento para 2002 está entre 1,5% e 2%. Ainda assim, Malan, afirmou ontem que o governo não está “alterando de maneira significativa o crescimento para este e para o próximo ano”.
Mercado fecha estável
Depois de bater o recorde da história do real pela segunda vez em menos de sete dias, o dólar fechou em queda nesta quinta-feira.
No final do dia, foi negociado a R$ 2,86 para venda (compra a R$ 2,86) pela taxa do Banco Central, queda de 0,56%. A queda foi menor do que a registrada pela manhã, quando a moeda americana chegou a ser negociada abaixo de R$ 2,84.
A Bovespa fechou com forte alta de R$ 3,01%