Governo estuda opções para minimizar apagões no NE

O governo federal estuda alternativas para minimizar os problemas de abastecimento de energia no Nordeste, como evidenciado pelo apagão ocorrido em agosto passado, com o desligamento de duas linhas de transmissão no Piauí em função de uma queimada. Dentre as alternativas estudadas, a que mais agrada ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é a adoção do critério “N-2” na expansão da rede elétrica.

“Da mesma forma que isso já foi feito para Brasília, deveria ser feito também para outras regiões do País”, afirmou o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp. O critério de segurança “N-2” consiste em dobrar o nível de redundância para evitar que a perda de um elemento da rede elétrica (linha de transmissão ou subestação) provoque problemas no fornecimento de energia. Hoje, a expansão da rede se baseia no critério “N-1”, no qual o sistema só conta com um nível de redundância.

A primeira cidade a ser planejada para ter o sistema elétrico dimensionado no critério “N-2” foi Brasília. O governo tomou a decisão recentemente em função dos recorrentes blecautes que atingiam a capital federal. A intenção é que o conceito possa ser adotado em outras cidades de médio e grande porte do País. O principal ponto negativo do critério “N-2”, contudo, é que implicaria mais investimentos na rede elétrica, elevando o custo da tarifa final de energia para os consumidores.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, reconheceu a necessidade de fortalecer o sistema elétrico diante dos problemas recentes. O executivo defendeu a realização de mais estudos para verificar a necessidade de se adotar o critério “N-2”. “Quanto mais redundâncias tiver, mais seguro será. Só que vamos pagar mais. Ou seja, há um ponto ótimo que é quanto nós queremos de segurança e quanto queremos pagar. Temos que verificar se essa é a melhor alternativa”, argumentou.

Mais do que investir em redundâncias, o grande desafio na visão da EPE é o de diminuir o tamanho das áreas de “ilhamento”. No jargão do setor elétrico, o conceito de ilhamento significa a área que ficou sem energia. No apagão de agosto, os procedimentos do sistema “ilharam” a falta de energia à Região Nordeste, de modo que o resto do País não teve problemas no abastecimento de energia. “Só que o Nordeste ainda é muito grande. O desafio, cada vez mais, é diminuir o tamanho das áreas de ilhamento”, avaliou.

Embora seja complexo, Tolmasquim comentou que a redução do tamanho das áreas de ilhamento demandaria menos investimentos do que a implementação do critério “N-2” para a expansão da malha do sistema. “Temos como estudar e achar uma solução para que a menor área possível seja afetada. Isso é muito mais barato do que construir redundâncias”, afirmou o executivo, ponderando que os investimentos em “N-2” também devem ser considerados.

O diretor-geral da ONS comentou, no entanto, que nem sempre a solução do ilhamento é viável, uma vez que o esquema de isolamento da área afetada depende da natureza da ocorrência. Para Chipp, os agentes do setor não deveriam polarizar as discussões sobre a melhor alternativa para resolver os problemas do sistema. “O planejamento reage muito. Ele sempre trabalhou em N-1 e, quando você fala em N-2, arrepia. Não é nada disso. Na minha visão, o blecaute é impagável. Não tem custo de investimento que pague um blecaute”, argumentou Chipp.

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