Foto: Cíciro Back/O Estado

Paulo Bernardo: algumas medidas já foram anunciadas.

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O ministro do Planejamento Paulo Bernardo afirmou ontem, durante almoço em Curitiba, que o governo federal está estudando mudanças na legislação para o câmbio. ?O governo está vendo medidas que vão ajudar a valorizar o dólar frente ao real?, disse o ministro para um grupo de representantes do setor agrícola do Paraná, durante almoço realizado na sede da Organização das Cooperativas Agrícolas no Paraná (Ocepar). ?Sabemos que é preciso ser solidários para dar um fôlego ao agronegócio?, afirmou.

Apesar da disposição do governo federal em atuar no câmbio, ainda que de forma indireta, o ministro ponderou que ?não será feita uma mudança radical.? ?Nós vamos fazer, através de projeto de lei ou de medida provisória, algumas mudanças capazes de ajudar a desvalorizar o real em relação ao dólar?, afirmou. ?Temos uma enxurrada de dólar entrando no Brasil. De um lado isso é bom, porque mostra que a economia está atraindo moeda estrangeira, investimento, mas por outro lado está prejudicando os exportadores?, acrescentou. Segundo ele, o objetivo do governo é promover um equilíbrio das duas pontas e ?dar um fôlego para os exportadores.?

Dentro do pacote de medidas para a agricultura, que será anunciado pelo governo federal na próxima quinta-feira, Bernardo lembrou que alguns programas emergenciais já foram anunciados, entre eles a alocação de R$ 2 bilhões para a aquisição de produtos – entre eles arroz, trigo, milho soja -, fazendo com que eles saiam do mercado e forcem para cima os preços pagos ao produtor. ?Há medidas também para prorrogar e renegociar dívidas de vários setores, em função da seca, da gripe aviária, da febre aftosa?, garantiu. Segundo o ministro, a área plantada não pode diminuir em função da crise atual. ?Seria um desastre?, sentenciou.

Alongamento de dívidas

Para o presidente da Ocepar, João Paulo Koslovski, a questão principal é o alongamento de dívidas para, no mínimo, dez anos. ?O agricultor não tem renda hoje para liquidar seus compromissos. Estamos pedindo o alongamento desta dívida para dar mais tranquilidade ao agricultor?, comentou. Koslovski entregou ontem um documento ao ministro sugerindo a renegociação dos débitos conforme cada caso.

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Para o presidente da Ocepar, é importante ainda que o governo destine mais recursos para a comercialização da safra – especialmente de produtos que estão com preço de mercado abaixo do mínimo, caso do arroz, algodão e milho -, o estabelecimento de uma política de renda mínima para a agricultura, além de medidas estruturais, com a retirada de tributos dos insumos e produtos agrícolas.

Seguro rural

Para o presidente da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep), Ágide Meneguette, o maior problema na crise da agricultura é o câmbio. ?No Paraná, há ainda um agravante: são duas safras de verão e três de inverno perdidas, devido à seca?, comentou. Meneguette criticou ainda a falta de um seguro rural. ?A lei já foi criada, o Fundo de Equalização de Catástrofe. O problema é que não está sendo aportado o volume de recursos necessários para ter esse seguro funcionando?, criticou. ?No mundo inteiro, o seguro agrícola tem um fundo de catástrofe, menos aqui.? Segundo Meneguete, o governo federal aportou entre R$ 20 mil e R$ 30 mil. ?Precisaria de muito mais. Nenhuma companhia vai fazer o seguro de uma atividade de alto risco, se não há um fundo que possa garantir isso aí.?

Fecoopar

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O objetivo principal do encontro do ministro Paulo Bernardo com a diretoria da Ocepar foi para a entrega do Registro Sindical da Fecoopar -Federação das Cooperativas do Estado do Paraná. Mas, pelo fato do registro não ter ficado pronto a tempo, Paulo Bernardo entregou uma cópia da publicação do Diário Oficial da União do dia 27 de abril que autoriza o funcionamento da entidade. O presidente da Ocepar, ressaltou que a constituição da Fecoopar e seu reconhecimento oficial era um antigo anseio do sistema.

Nem todas as perdas do setor serão recuperadas

Londres (AE) – O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse que o pacote para a agricultura deverá ser concluído hoje. Segundo ele, o conjunto de medidas – que deverá ser anunciado pelo governo na próxima quinta-feira – aliado às mudanças no câmbio que estão sendo planejadas pela equipe econômica poderão ?acabar com a pior crise no campo dos últimos 40 anos?. Rodrigues admitiu, no entanto, que nem todas as perdas do setor agrícola nos últimos dois anos serão recuperadas.

?O pacote para a agricultura ainda não está fechado?, disse Rodrigues a jornalistas antes de proferir uma palestra organizada pela Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha. Ele explicou que o pacote terá ?três vertentes?. A primeira incluiu um plano de safra para o próximo ano ?com mais dinheiro e juros menores do que no passado?. Além disso, serão tratados ?temas estruturais da agricultura, com ênfase no seguro rural e cujo ponto central é a criação do fundo catástrofe, mas também algumas questões tributárias?. Ele acrescentou que o pacote também ?dará uma olhada geral? no endividamento da agricultura. ?São temas que estão sendo tratados conjuntamente?, disse.

Rodrigues ressaltou que a ajuda à agricultura será reforçada pelas medidas para o câmbio que estão sendo estudadas pela equipe econômica.

Segundo Rodrigues, o governo está convencido de que a crise na agricultura vem tendo reflexos fortes em outros setores da economia. ?Os problemas com grãos estão destruindo a renda de municípios e estados da região Centro-Oeste?, disse. ?O governo tem clareza hoje que existe um efeito dominó, que se inicia antes da porteira da fazenda -nos insumos, produtos, máquinas, etc – para fora da porteira. É preciso se encontrar soluções consistentes e por isso acredito que teremos um pacote adequado?.

No entanto, ele admitiu que o pacote não será suficiente para atender todas as reivindicações do setor agrícola. ?O buraco no setor agrícola nos últimos dois anos é de R$ 30 bilhões?, disse. ?Não existe política pública que disponibilize os recursos suficientes para tampar esse buraco, mas espero que o pacote minimize o problema. Com a solução da questão cambial, aí sim, poderemos ver o fim da crise no câmbio.?

Rodrigues reafirmou que não vai permanecer no cargo no próximo governo. ?Considero minha missão cumprida, não fico mais?, disse. Ele admitiu que suas expectativas quando assumiu o ministério no início do governo Lula foram parcialmente frustradas.

Rodrigues disse que ?o céu caiu sobre a sua cabeça? nos últimos dois anos, referindo-se à seca, problemas de infra-estrutura, a febre aftosa, a gripe aviária, valorização do real e outros fatores assolaram a agricultura brasileira. ?Com as mudanças que vêm por aí com o pacote e no câmbio tenho certeza que meu sucessor terá condições de administrar a pasta com menos problemas do que enfrentei nos últimos dois anos.?