Em meio ao temor sobre eventual rebaixamento da nota de crédito brasileira, espécie de baliza sobre a qualidade das contas do País, uma equipe da agência de classificação de risco Standard & Poor’s sabatinou autoridades no Banco Central e nos ministérios da Fazenda e das Comunicações sobre um amplo leque de temas. O governo tenta evitar o chamado “downgrade” dessa nota, algo que seria desastroso para sua estratégia de atrair investidores e recuperar a credibilidade perdida com manobras para fechar as contas nos últimos dois anos.
A visita da missão da agência ao Brasil, nesta semana, teve nesta quinta-feira, 13, recepção “vip” na cúpula da equipe econômica em Brasília, com direito a carona em veículo oficial do Ministério da Fazenda nos deslocamentos pela cidade.
“Acho possível termos uma trégua até o fim do ano para cumprir a meta”, disse uma fonte qualificada do governo ao Grupo Estado, em referência à meta de economizar 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) para amortizar juros da dívida.
Em tom descontraído e cordial, segundo relatos ouvidos pela reportagem, três especialistas da agência perguntaram sobre cenário macroeconômico, perspectivas de investimentos, política, relações do governo com o Congresso. E deram especial atenção a dois temas: as prioridades da presidente Dilma Rousseff em um eventual segundo mandato e as implicações dos protestos de junho de 2013 na sociedade e no governo. Ouviram que a infraestrutura estará no centro das decisões de Dilma, a exemplo da nova Lei dos Portos, assim como o aprofundamento da inclusão social iniciada no governo Lula.
Gastos
O eixo comum em todas as conversas foi a ênfase na situação fiscal brasileira. “Olho no olho”, como relatou uma fonte, a S&P tratou dos planos para cumprir a meta de superávit primário anunciada pelo governo. Numa das conversas, ouviu que Estados e municípios já cumpriram boa parte de sua obrigação fiscal – ou 0,35% do PIB. Hoje, na Fazenda, a equipe da S&P aprofundará o tema em uma nova rodada de conversas com os secretários Arno Augustin (Tesouro) e Márcio Holland (Política Econômica).
Em público, o governo negou relação da visita com as recentes medidas fiscais, como o socorro ao setor elétrico anunciado hoje. “Nunca comentei sobre agências e não é hoje que vou comentar”, disse Arno Augustin. Ele disse que a solução energética é importante, mas não por causa do cronograma da S&P.
Acalmar o mercado
Em conversas reservadas, entretanto, membros de governo confessam que algumas medidas tomadas desde o fim do ano passado têm como objetivo acalmar investidores e influenciar balizamentos relevantes ao mercado, como a nota de crédito das agências de risco.
A maratona dos funcionários da S&P começou às 9h no BC. Após duas horas de reunião, seguiram ao Ministério da Fazenda, de carona em uma van da frota oficial, flagrada pelo ‘Estado’. Isso poupou alguns reais aos cofres da agência privada. No dia anterior, o ministro Mantega cobrou R$ 40 de cada um dos 18 empresários por um almoço. Organizador do périplo na capital, o Tesouro Nacional informou que a carona a convidados estrangeiros em visita ao País é “uma praxe de longa data, de décadas”.