Governo discute alternativa ao etanol

Exemplo na produção e consumo de etanol hidratado em larga escala e ambientalmente correto, o Brasil corre o risco de reverter esse ganho caso o governo aceite a proposta de substituir o combustível feito 100% com cana-de-açúcar pelo chamado E85. Em vez de álcool puro, o E85 é uma mistura de 85% de etanol anidro e 15% de correntes intermediárias de gasolina, ou seja, um derivado de petróleo de menor qualidade.

A proposta é discutida na “Sala do Etanol” do Ministério de Minas e Energia por representantes do governo, distribuidoras e Petrobrás, que defendem a nova mistura, e pelos produtores de etanol, contrários ao E85. A ideia é padronizar a produção do etanol em anidro, que hoje já é misturado à gasolina em 25%. Assim, o abastecimento dos carros seria dividido entre o novo E85, em lugar do etanol hidratado, e a manutenção da gasolina C, mistura de gasolina A (pura) com 25% de etanol anidro.

“A posição do governo é fomentar o debate. Cada um que coloca o ponto de vista tem motivos e preocupações. Não tem definição ou prazo para decisão, que será tomada se tiver mais prós do que contras”, disse ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia, Ricardo Dornelles. Indagado se a medida não geraria críticas pelas perdas ambientais, ele foi irônico: “Há alguma coisa que o governo faz que não tem crítica?”

Aval

Um documento obtido pela reportagem mostra que a questão principal para a Petrobrás é financeira. Com um rombo nos cofres após disparada na importação de gasolina A, que deve atingir o recorde de US$ 10 bilhões em 2013, a estatal deu aval ao novo combustível. O documento justifica que uso do E85 elevaria em 15% o consumo de etanol e também geraria economia no uso da gasolina pura.

Com isso, a importação de gasolina de baixa octanagem reduziria a compra de gasolina pura e aliviaria o caixa da empresa. “O uso do E85 com correntes intermediárias permitiria uma redução de importações de gasolina A. O ganho está no diferencial de custo entre a importação desses dois produtos”, diz a Petrobrás no relatório.

Com base inicial em 2014, a companhia estima que as importações de gasolina, mantido o cenário atual, crescerão 3% em 2015, 41% em 2017 e 58% em 2020. A previsão considera ainda que o teor da mistura de 25% do anidro à gasolina deve ser mantido. “Se houver a redução do teor de anidro na gasolina C, os volumes importados serão ainda maiores, na medida em que o volume de produção interna se reduz em cerca de 10%.”

Segundo fontes do setor, a mudança evitaria também problemas logísticos à estatal, diante da estimativa de alta na importação de gasolina pura. Procurada, a Petrobras disse que não comentaria o assunto.

Principal prejudicada, a indústria sucroalcooleira informou, via União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que o assunto “não está mais em pauta, que a proposta foi descartada e a posição fechada pela entidade” é contrária à mudança. Outra proposta, de aumentar a mistura do anidro à gasolina de 25% para 30%, também teria sido descartada.

Já o Sindicato das distribuidoras de combustíveis (Sindicom) avalia, em estudo, que o E85 traria menor volatilidade entre os preços da gasolina e o etanol, maior previsibilidade de demanda e maior segurança no abastecimento. Mas o sindicato alerta para a necessidade de revisão tributária com o surgimento do novo combustível. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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