Em vez de anunciar um corte de gastos que tende a ser pouco convincente, o governo deveria admitir que o quadro é difícil, que fechará o ano com uma economia fiscal mais baixa do que os prometidos 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), mas buscará melhorar o resultado no médio prazo. É o que avaliam economistas do setor privado. Eles concordam com a visão de uma ala do governo para a qual conter despesas agora, quando a atividade econômica dá sinais de fraqueza, pode piorar a situação.

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“Faltam cinco meses para terminar o ano, portanto não haverá tempo de cortar o que seria necessário para atingir a meta”, diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. O mais grave é que isso seria feito para cumprir uma meta nas contas públicas com a qual o mercado não conta. “Se o governo fechar o ano com saldo abaixo do prometido, não será surpresa para ninguém.”

Qualidade do corte

O ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, acha que uma eventual contenção de despesas seria de má qualidade, com gastos retidos “na boca do caixa” e, possivelmente, prejudicando investimentos. “O importante são as expectativas”, admite.

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Nesse sentido, acredita, o governo tem dado sinais corretos, ao indicar que buscará, no médio prazo, um déficit nominal (diferença entre arrecadação e gastos, inclusive os juros) mais baixo, com a perspectiva de zerá-lo. Também foi acertado informar que não vai mais fazer desonerações, que tiveram efeito inflacionário, e vai parar de recorrer a manobras contábeis.

Juros. Defensora histórica do corte de gastos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que a contenção de despesas é importante para abrir espaço para que o Banco Central fixe taxas de juros mais baixas.

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“É difícil, mas se o governo cortasse gastos de custeio seria importante”, diz o gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca. “Mas, se for para cortar investimentos, aí eu concordo que não é hora de fazer.” Fonseca e Freitas destacam que, sem um ajuste nos gastos públicos, aumenta a importância da atuação do Banco Central. “Ele passou a ser o grande gestor da economia, já que o fiscal está de mãos amarradas”, comentou o economista da CNC. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.