O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, espera encontrar uma solução para o embargo promovido pela China às importações de soja brasileira. A China tem recusado carregamentos de soja enviados pelo Brasil sob a alegação de que os grãos estavam misturados a sementes com herbicidas e, portanto, contaminados. Anteontem, a China divulgou uma lista com os nomes de outras 15 empresas brasileiras que terão seus produtos vetados no mercado local. Ao todo, segundo Rodrigues, já são 23 as exportadoras brasileiras prejudicadas.
“Temos uma expectativa favorável”, afirmou o ministro. “Se não for resolvido, pode ser um problema para o escoamento de soja.”
O ministro, no entanto, afirmou que a China “não é o único mercado para o produto brasileiro” e que não acredita que o embargo chinês venha a prejudicar o acesso a novos mercados para a soja brasileira. “Esse problema não arranha ainda as relações com a China”, disse Rodrigues.
“O ministério chinês nos informou que navios que estão a caminho da China serão analisados e descarregados. Há uma suspensão temporária que se confirmada permanente pode criar uma situação intransponível com relação a China. Mas ainda não chegamos a esse ponto”, disse Rodrigues.
O ministro afirmou ainda que o governo brasileiro ainda não considera a possibilidade de vir a acionar a OMC (Organização Mundial do Comércio) como alternativa para a solução do problema. “Não é algo que estamos considerando”, disse.
A China, por ser integrante do bloco comercial, é obrigada a adotar os mesmos critérios internacionais de exigências para controle e qualidade sanitária de produtos agrícolas, entre eles a soja que, no caso do Brasil, cumpre as exigências da organização.
Fiscais
Uma das propostas que será apresentada pelo governo brasileiro à China, segundo Rodrigues, é que os chineses enviem fiscais para trabalhar nos portos do Brasil.
O objetivo dessa medida seria evitar que navios brasileiros com soja sejam impedidos de entrar na China.
“Estamos solicitando a eles que venham para cá e o setor privado, o exportador brasileiro, está disposto a bancar a permanência desses fiscais para que as coisas sejam resolvidas aqui e não lá (na China)”, disse.
Interesses e especulações
Analistas de mercado especulavam, ontem, que existe interesse econômico e político na posição chinesa. Como o preço da soja atingiu patamares muito altos, isso aguçou o interesse de alguns produtores de aumentar seus lucros misturando as sementes. Os importadores chineses estão sendo rigorosos na fiscalização já que compraram o produto em alta e em grandes quantidades. Com a constatação de irregularidades na soja brasileira, os importadores podem estar pretendendo devolver as cargas na tentativa de obter um preço menor.
Investidores disseram à agência France Press que a suspensão do desembarque de soja do Brasil nos portos chineses foi uma medida do governo para fortalecer as indústrias locais, que estão operando com margens de lucro negativas por causa do alto custo de importação e dos preços baixos dos derivados de soja. Muitos operadores de Dalian, na China, dizem acreditar que a suspensão não representará um grande problema para o mercado e será cancelada assim que faltar soja no mercado chinês.
Onze empresas embargadas são do PR
Onze empresas do Paraná, incluindo cinco cooperativas, tiveram a soja recusada pelas autoridades sanitárias da China por suposta contaminação de sementes tratadas com funcigicidas. Isso significa que quase metade das 23 empresas que estão temporariamente suspensas de exportar soja para aquele país são do Paraná – Estado que é o segundo produtor nacional do grão. Um dos navios que teve a carga recusada – o “Bunga Saga Lapan” – foi carregado com 62 mil toneladas de soja no Porto de Paranaguá no início de maio. Ontem, outro navio, o “Alpha Harmony”, de bandeira grega, estava atracado no Corredor de Exportação do Porto de Paranaguá para recebimento de 59 mil toneladas de soja com destino também à China.
“Nossa preocupação é que isso não vire uma barreira comercial”, afirmou ontem o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, referindo-se às suspensões. Do total de 62 mil toneladas de soja embarcadas no “Bunga Saga Lapan”, cerca de 17 mil toneladas são de cooperativas: a Coamo Agroindustrial Cooperativa – maior cooperativa agropecuária da América Latina -, de Campo Mourão; Cocari Cooperativa Agropecuária e Industrial, localizada em Mandaguari; Cooperativa Agroindustrial Lar, de Medianeira; Cooperativa Agropecuária Castrolândia, em Castro; e Cooperativa Mista Agropecuária do Brasil (Coopermibra), localizada em Campo Mourão.
“As cinco cooperativas paranaenses relacionadas utilizam processos de assistência técnica, através do qual a produção é acompanhada tecnicamente em todo o processo produtivo, assegurando assim qualidade e sanidade do produto”, informou ontem a Ocepar, em nota à imprensa.
Para Koslovski, tolerância zero na soja, exigida pela China, é algo quase impossível. “Exportamos para a França, Itália, Suécia, Alemanha, e nunca tivemos esse tipo de problema. A China é de fato um mercado importante, mas é preciso que haja regras bem definidas para que não haja prejuízos”, afirmou. Segundo ele, a expectativa é que a missão brasileira que vai à China tratar do assunto traga soluções. “É uma situação insustentável”, lamentou.
Outras empresas paranaenses que tiveram a soja suspensa são: Bunge Alimentos S.A, Allicorp Trading e Comércio Exterior S.A., Fertimourão Agrícola, Lavoura Indústria Comércio Oeste, Peron Ferrari Comércio de Cereais e Sementes Guerra.
Aplicação de corantes
O governador Roberto Requião vai enviar ao governo federal documento solicitando que volte a ser exigida, em todo o País, a aplicação de corante nos fungicidas usados para tratar as sementes de soja. Esta seria a maneira mais rápida e eficiente de detectar a presença do agrotóxico, que não pode ser constatada a olho nu. A decisão foi tomada após reunião do governador e dirigentes de cooperativas do Paraná ontem. Segundo Requião, esta é a única forma de impedir que sementes tratadas sejam misturadas à soja vendida no mercado, o que já causou o embargo da soja brasileira. “Nós estamos fazendo uma varredura, junto com o Ministério da Agricultura, em Paranaguá e até o momento não foi encontrada nenhuma irregularidade”, assegurou o presidente da Claspar – Empresa Paranaense de Classificação de Produtos, Eduardo Baggio.
Porto
O superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Eduardo Requião, afirmou que nenhuma queixa ou notificação oficial foi enviada à Appa, confirmando a notícia de refugo da carga que partiu do Paraná. O superintendente afirmou que os problemas já estão sendo apurados.
“Vamos verificar o que realmente aconteceu, mas já adiantamos que estamos prontos para nova fiscalização das amostras da carga enviada no navio e mostrar que o problema é, antes de tudo, comercial e não se refere a qualidade da carga”, comentou.
Ontem, 12 navios estavam atracados nos portos do Paraná, carregando mais de 206 mil toneladas. Entre eles, estava o “Alpha Harmony”, de bandeira greca. O navio estava atracado no Corredor de Exportação para recebimento de 59 mil toneladas de soja com destino à China.(Lyrian Saiki e agências)
Governo chinês busca solução
O governo chinês pretende encontrar uma solução “o mais rápido possível” para o impasse sobre a importação da soja brasileira. A afirmação foi feita ontem pelo vice-ministro do Comércio da China, Yi Xiozhum.
O ministro chinês fez a declaração logo após encontro com o ministro do Desenvolvimento do Brasil, Luiz Fernando Furlan, durante a 11.ª Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), em São Paulo.
“Vamos encontrar uma solução o mais rápido possível. A China está disposta a aumentar o comércio de soja com o Brasil”, disse.
Xiozhum afirmou que o embargo do produto brasileiro reflete uma preocupação apenas técnica e que deve ser solucionada durante os encontros que serão mantidos entre os representantes dos governos brasileiro e chinês nos próximos dias.
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