Governo busca conciliação para greve em Paranaguá

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem, em Fortaleza, que o governo federal está discutindo com o governo do Paraná uma solução para a greve no Porto de Paranaguá, que ontem completou cinco dias. “Essa situação de fato está criando uma dificuldade nas exportações. Estamos conversando com o governo do Paraná para buscar a melhor saída”, informou. De acordo com o ministro, o papel dele nas negociações será “conversar, conversar e conversar” em busca de uma conciliação, de solução adequada. Rodrigues declarou que a greve no porto de Paranaguá irá reduzir o superávit na balança comercial em março.

O governador Roberto Requião atendeu, ontem à noite, a um grupo de representantes do Movimento por Paranaguá, organizadores da paralisação e signatários do manifesto que pede a saída diretoria da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa). Eles estiveram no Palácio Iguaçu, foram recebidos pelo Chefe da Casa Civil, Caíto Quintana, e encaminhados para a residência oficial do governador, onde a reunião não tinha hora para acabar.

“O governo não negocia com exigências prévias, sob pressão. O governo está aberto ao diálogo, à discussão, a ouvir as reivindicações, mas de forma alguma aceita posições prévias. É uma irresponsabilidade aceitar condições prévias numa negociação que mal começou”, informou o governador através da Assessoria de Imprensa. “O governo continua considerando o problema de Paranaguá um locaute, uma paralisação provocada por interesses contrariados. A administração de Eduardo Requião é correta e o Governo, em hipótese alguma, aceita exigências ou conversas sobre remoção de diretores do Porto. Para o Governo isso não está em questão”, finalizou.

Estiveram presentes o superintendente do porto, Eduardo Requião; o prefeito de Paranaguá, Mário Roque; o procurador do porto, Mauro Maranhão; o assessor especial do governador Mário Lobo; o presidente do Sindicato dos Estivadores, Jamil Amâncio, o presidente do Sindicato dos Arrumadores, Vanderley Costa Mendes; o presidente do Sindicato dos Portuários, Wilson Moraes; o presidente do Sindicato dos Operadores (Sindop), Edson Aguiar; o diretor do Sindop Emerson Costa; o diretor da Cooperativa dos Transportadores Autônomos, Ademir Scomasson, além de representantes dos caminhoneiros.

“Queremos conversar com o governador para começar a trabalhar”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Portuários, Wilson Moraes, a caminho de Curitiba.

Em busca de um desfecho para a paralisação, a Delegacia Regional do Trabalho do Paraná (DRT/PR) havia marcado uma audiência de mediação para as 10h de ontem, na sede da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa). Os sindicatos envolvidos na paralisação do porto não concordaram com o local da reunião, pedindo que fosse realizada em “campo neutro”. A reunião foi adiada.

Tudo parado

No Porto de Paranaguá, continua tudo parado. A convocação da Appa para os 565 trabalhadores portuários vinculados à autarquia retornarem ao trabalho não surtiu o efeito desejado. Embora um grupo de funcionários estivesse na faixa portuária, não foram convocados pelos operadores, que não chamaram navios para carregamento. A fila na BR-277 tinha 77 quilômetros de extensão, com aproximadamente 3,8 mil caminhões, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal.

O congestionamento chegou também aos trilhos. A América Latina Logística (ALL) informou que tem 1.500 vagões estacionados em seus pátios de manobras esperando a reativação do porto de Paranaguá, sendo mil na região de Paranaguá e outros 500 em Curitiba e Ponta Grossa. Os vagões carregam 75 mil toneladas de grãos. Desde o início do protesto, a ALL parou de enviar vagões a Paranaguá.

Prejuízos

Enquanto o impasse nas negociações continua, os segmentos econômicos ligados ao Porto contabilizam suas perdas. As indústrias avícolas do Paraná estimam prejuízo de até R$ 20 milhões com a greve. O cálculo do Sindiavipar (Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná) leva em conta R$ 17,4 milhões de mercadorias não embarcadas, R$ 70 mil de custo com ração extra, mais R$ 500 mil perdidos com pintinhos que deveriam ser enviados para as granjas, mas tiveram seus lugares ocupados pelos frangos que não foram embarcados. Em 2003, o Paraná exportou 503 mil toneladas de frango, 263 mil pelo Porto de Paranaguá e 240 mil pelo de Antonina.

Em nota à imprensa, a Ecovia, concessionária que administra a rodovia BR-277, no trecho Curitiba-Paranaguá, informa que já gastou 2,2 milhões, desde 2002, para recuperar e consertar os estragos causados no acostamento por conta da fila de caminhões, “dinheiro este que poderia estar sendo aplicado em outras obras e melhorias em benefício aos usuários da rodovia”.

Delegado já ouve depoimentos

Os primeiros depoimentos dos representantes das entidades acusadas de promover o locaute no Porto de Paranaguá começaram a ser colhidos ontem. O novo delegado designado para acompanhar o caso, Messias Antonio da Rosa, que substituiu Sebastião Gaspar, também da Polícia Civil de Paranaguá, disse que espera concluir o inquérito em dez dias.

A abertura de inquérito policial foi solicitada pelo governador Roberto Requião e pelo procurador-geral do Estado, Sérgio Botto de Lacerda. O inquérito visa enquadrar os responsáveis pela paralisação do Porto de Paranaguá nos artigos 201 (crime contra a organização do trabalho), 286 (conduta de incitação à prática de crime) do Código Penal Brasileiro, e na Lei de Segurança Nacional.

Já foram convocadas para depor todas as pessoas que assinaram um manifesto que provocou a paralisação do porto. Até o momento foram ouvidos o presidente do Sindicato dos Operadores Portuários (Sindop), Edson Cesar Aguiar, o dirigente do Terminal de Contâineres do Porto (TCP), Mauro Fontana Marder, e Luis Sérgio da Silva, da Rodosafra, que é representante da massa falida da Olvepar. Estes dois últimos também são da multinacional Bunge. Segundo o delegado Messias, todos confirmaram a participação na assembléia que resultou no manifesto, mas nenhum assumiu a responsabilidade pelo início do movimento.

O inquérito está sendo conduzido em Paranaguá pelo delegado local, com a colaboração de dois delegados do Cope, designados pelo secretário de Segurança. Um reforço à tropa de choque da Polícia Militar também está em Paranaguá, além de investigadores e escrivães da Polícia Civil.

Deputados tentam intermediar o conflito

A comissão parlamentar designada pelo presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão (PSDB) passou o dia de ontem em Paranaguá, em busca de um diálogo entre os sindicatos de trabalhadores e empregadores que prestam serviços ao porto e a superintendência da Administração dos Portos de Antonina e Paranaguá-Appa. Até o final da tarde os deputados Marcos Isfer (PPS), Élio Rusch (PFL) e José Maria Correia (PMDB) já haviam se reunido com o superintendente da Appa, Eduardo Requião, em seu escritório, com sindicatos de trabalhadores, no fórum local, e com sindicatos de trabalhadores e empregadores, na Câmara Municipal, sem chegar sequer perto do entendimento pretendido.

“Os sindicatos têm uma extensa pauta de reivindicações. Em nossas conversas, estamos tentando reduzir essa pauta na tentativa de abrir um diálogo entre as partes envolvidas, sindicatos e a direção do porto. Mas está difícil”, admitiu o deputado Élio Rusch, apelando ao bom-senso de todos para evitar maiores prejuízos ao Paraná e ao país.

Segundo ele, há informações de que um grande número de empresas, entre elas a fábrica de papel e celulose Klabin, já estão buscando os serviços dos portos de Santos e de Santa Catarina: “Isso não é bom para o Paraná. Estou certo de que ninguém deseja ver o Estado prejudicado”, arrematou o deputado do PFL.

CPI

A CPI do Porto, protocolada na última segunda-feira pelo deputado Valdir Leite (PPS) deve ser instalada na próxima segunda-feira (29), segundo informações do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Hermas Brandão. Até ontem à tarde só dois partidos haviam indicado representantes para compor a comissão: o PFL, que indicou o deputado Durval Amaral, e o PDT, que indicou o deputado Barbosa Neto.

Fiscalização

A Comissão de Fiscalização e Controle da Assembléia Legislativa se reúne hoje, às 10h, na sala das Comissões da Casa, para ouvir João Carlos Domanski, ex-coordenador da área de Segurança e Higiene da Appa; Mauro Maranhão, procurador jurídico da Appa; Alaor Reis, assessor da Superintendência; Valdir Neves, ex-responsável pela contabilização de soja e Gilmar Francener, atual contador da autarquia. Todos serão questionados sobre o desaparecimento de 1.610 toneladas de soja do silo vertical, em dezembro do ano passado, além de outros assuntos referentes ao funcionamento do porto.

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