A Cesta do Povo, rede de supermercados do governo da Bahia, foi criada em 1979 pelo então governador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), sob a justificativa de levar alimentos e itens de necessidade básica a cidades do interior e a bairros periféricos de grandes centros urbanos, locais onde a iniciativa privada não tinha interesse de se instalar naquela época. Além do papel social atribuído pelo governo à rede, com os supermercados próprios, a administração estadual também conseguia “tabelar” os preços de vários produtos, em um período em que a inflação saia do controle no País.

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O cenário mudou. Hoje, até pequenas cidades baianas já contam com mercados bem estruturados e supermercados. Redes nacionais – e internacionais, como a chilena Cencosud, que tem avançado no Estado com a bandeira G Barbosa – nutrem crescente interesse em municípios menores e mais afastados dos grandes centros.

A inflação, ainda que cause debates acalorados no País, está longe das porcentagens contadas mensalmente às dezenas nos anos 80. Apesar disso, a Cesta do Povo chega aos 35 anos como a maior rede varejista da Bahia, com 288 lojas em 236 dos 417 municípios do Estado.

Sem servir para as funções para as quais foi criada, a rede acumula problemas. Ainda que tenha as maiores lojas do gênero na maior parte das cidades nas quais atua, a Cesta do Povo já não consegue concorrer, em termos de diversidade, qualidade – e, muitas vezes, de preço – com outros estabelecimentos, mesmo de porte menor.

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Além disso, como é comum em empresas públicas que emulam o trabalho da iniciativa privada, a rede virou um grande cabide de empregos para indicados políticos ao longo das administrações estaduais. Sem falar dos muitos desvios de função que uma empresa pública de comércio impõe – como policiais militares destacados para fazer a segurança das lojas.

O governador Jaques Wagner (PT), ainda em seu primeiro mandato, chegou a tentar vender a rede. Sob sua administração, a Empresa Baiana de Alimentos S. A. (Ebal), administradora da Cesta do Povo, contratou auditoria para avaliar a administração da empresa, reformou lojas, mudou a programação visual dos estabelecimentos, ampliou o mix de produtos, tentou sanear as contas. O objetivo era tornar a rede atraente para potenciais investidores. Após oito anos de governo, Wagner passa a administração do Estado para seu ex-secretário da Casa Civil, Rui Costa (PT), sem ter sucesso no projeto.

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“Certamente, vender produtos não faz parte das atribuições do Estado”, admite o novo governador. “Fizemos muitos avanços na administração da Cesta do Povo, mas não conseguimos completar o plano. Acho que as pessoas envolvidas (no processo de saneamento) acabaram se apegando (à empresa).”

Prejuízo

Costa assumiu o governo no dia 1º, com a privatização da Cesta do Povo como um dos objetivos iniciais declarados – e parte do projeto de reforma administrativa apresentado pelo governo e aprovado pela Assembleia em 11 de dezembro. “Não é possível o Estado tirar investimentos da educação e da saúde para aplicar em um supermercado”, argumenta.

A Cesta do Povo custa ao governo, hoje, cerca de R$ 60 milhões por ano, apenas em repasses diretos para manter a operação. Nos oito anos de governo Wagner, o prejuízo aos cofres públicos com esses investimentos foi de R$ 380 milhões. Segundo um estudo feito pela consultoria PricewaterhouseCoopers, seria necessário aplicar R$ 200 milhões na rede apenas para torná-la competitiva. “É um recurso do qual o Estado não dispõe, mas pode fazer com que o faturamento da rede (cerca de R$ 600 milhões anuais) dobre”, diz o secretário de Indústria, Comércio e Mineração da Bahia, James Correia.

Além de precisar encontrar interessados na compra da rede, o governador eleito enfrenta pressão dos sindicatos dos trabalhadores antes mesmo de tomar posse. Eles cobram que haja algum tipo de estabilidade funcional para os 2,7 mil funcionários da Cesta do Povo no Estado – dos quais apenas 700 são concursados. “Ainda não temos o projeto formatado, mas um dos pré-requisitos é que os funcionários sejam mantidos”, afirma Costa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.