O governo alemão tem interesse em que as empresas do país participem dos leilões de linhas de transmissão de energia, onde a chanceler, Angela Merkel, acredita que a tecnologia alemã supera a brasileira. Durante a conversa privada entre as duas chefes de Estado, a presidente Dilma Rousseff pediu a Merkel a participação da Alemanha no Programa de Investimentos em Logística (PIL), anunciado este ano, e a chanceler revelou que o principal interesse seria na área de transmissão e na de portos.
Bem informada, Merkel disse a Dilma que a perda energética na Alemanha é de apenas 5%, enquanto no Brasil passa de 20% – pelas distâncias, mas também pela tecnologia usada. O interesse alemão, além das linhas de transmissão, são os smart grids, ou redes inteligentes, um sistema de dados com sensores que controlam o desempenho das linhas. A presidente teria respondido positivamente à ideia e informado à chanceler alemã que “um grande leilão seria feito em breve”, mas sem dar detalhes. Nessa área, há dois leilões de linhas de transmissão previstos para setembro e dezembro.
Outra área de interesse dos alemães são os portos, especialmente a administração logística, como foco no porto de Santos, o maior do País. Essa é uma das principais áreas do PIL, anunciado no início de junho, e que inclui ainda aeroportos, ferrovias e rodovias, em um total de 150 concessões e um investimento que alcança R$ 198,4 bilhões. O governo brasileiro gostaria de ver a Alemanha entrar também nos leilões de ferrovias, que compõe a maior parte do programa de concessões, com R$ 86 bilhões – a Deustch Bahn é uma das melhores empresas de ferrovias do mundo – mas, por enquanto, não houve uma demonstração de interesse maior.
Fontes do governo que estiveram nos três encontros entre as duas chefes de estado – o jantar no Alvorada, a reunião privada e a ampliada, com a presença de todos os ministros – afirmam que o mau estado da economia brasileira e a crise política não foram tratados. Antes de Merkel deixar o Brasil, o porta-voz do governo alemão foi questionado sobre se esse era um momento apropriado para uma visita ao Brasil. A resposta foi que as “questões internas” do governo brasileiro não definem a agenda de visitas da chanceler e que as relações com o Brasil são “de primeiro nível” e importantes para o País. Do lado brasileiro, a visita foi tratada como uma demonstração de confiança na economia e nos negócios no País.
No entanto, durante o jantar no Palácio do Alvorada na noite de quarta-feira, 19, os ministros alemães questionaram seus colegas brasileiros sobre o andamento da economia nacional e as perspectivas de crescimento do Brasil. A mensagem otimista que se procurou transmitir foi a de que o País passa por um processo de ajuste, que irá abrir as portas de um novo ciclo de desenvolvimento – uma repetição do que o governo tem pregado no exterior.
As duas chefes de Estado voltaram a falar do acordo comercial Mercosul-União Europeia. Nas conversas privadas, Dilma prometeu mais de uma vez que o Mercosul conseguirá apresentar sua oferta até o final deste ano – apesar das constantes declarações de que o bloco está pronto, ainda há dificuldades com a Argentina. Em seu discurso, Merkel respondeu. “Sabemos que o grupo Mercosul bastante heterogêneo, mas o Brasil assumiu um papel de liderança e a presidente nos disse que até o último semestre vão ser apresentadas as proposta para que possamos iniciar a negociação. Nós vamos trabalhar para ter também a nossa proposta (da UE)”, disse.
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