O Palácio do Planalto e a equipe econômica bateram o martelo de que é preciso “cortar na carne” e promover um novo bloqueio, da ordem de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões, nas despesas previstas para este ano. Mas, diante da enorme dificuldade dos técnicos de encontrar gordura no Orçamento, a presidente Dilma Rousseff decidiu que será necessário aumentar impostos.
A ordem no governo é perseguir, a todo o custo, a meta de poupar o equivalente a 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o pagamento dos juros da dívida pública. Este é o cerne do “pacto pela responsabilidade fiscal”, o primeiro dos cinco compromissos públicos anunciados por Dilma na semana passada como resposta às manifestações de rua que tomaram o País em junho.
Em busca de despesas para cortar e de receitas para engordar os cofres públicos, o governo federal deve deixar em segundo plano uma das promessas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de melhora no modelo de negócios das empresas: a simplificação e a unificação do PIS e da Cofins. Os dois são, neste momento, o alvo preferencial dos técnicos nos estudos sobre quais tributos podem ser elevados para aumentar a arrecadação. A decisão é delicada, uma vez que o governo passou dois anos e meio fazendo justamente o contrário.
Onde cortar
Pressionada a dar um choque de credibilidade para a política fiscal, a equipe econômica enfrenta dificuldades para fechar o corte adicional de despesas do Orçamento. Algumas propostas já foram levadas pelos técnicos a Mantega, mas o espaço fiscal para fechar as contas é bastante reduzido.
Segundo fontes, o novo contingenciamento terá que ser maior do que R$ 15 bilhões, mas o problema agora é achar a equação adequada. A avaliação que ganha força é de que um valor menor do que R$ 15 bilhões não resolverá o problema da credibilidade. “Temos um abacaxi para descascar”, admitiu um técnico do Ministério da Fazenda.
O governo deve bloquear emendas dos parlamentares, diminuir gastos com pessoal e restringir ainda mais as despesas com passagens aéreas e outros gastos de custeio dos ministérios, autarquias e demais órgãos federais. Desta forma, economistas do governo avaliam ser possível bloquear entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões do Orçamento. Existem cerca de R$ 7 bilhões em emendas de parlamentares ainda à disposição. Este é o volume que restou após o primeiro corte, anunciado no fim de maio pelo governo federal, de R$ 28 bilhões.
Há espaço também para reduzir as previsões de despesas de pessoal, gastos com seguro-desemprego e subsídios. A atual reprogramação já tirou R$ 2 bilhões do funcionalismo e o governo pode tirar ainda mais, pois a presidente Dilma Rousseff tem sido firme nessa área.
Arrecadação
Do lado da arrecadação, o governo deve ainda subir as previsões de receitas previdenciárias, como fez no ano passado. O cenário mais otimista, na avaliação da área técnica, é o de um crescimento real das receitas de 4%, ante a estimativa anterior entre 3% e 3,5%. Este desempenho pode ser ainda maior, caso o governo efetivamente eleve a tributação sobre alguns setores.
O projeto que cria um regime especial de tributação para o setor de transporte coletivo rodoviário urbano, aprovado nesta terça-feira, 02, no Senado, deve receber o sinal verde de Dilma. Conforme análises preliminares, os técnicos avaliam que as passagens podem ficar cerca de 10% mais baratas, em média. No entanto, como a renúncia fiscal é relevante, o regime só deve entrar em vigor em 2014, segundo apurou o jornal O Estado de S.Paulo.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira, deu pistas ao deixar uma audiência no Congresso: “Qualquer aumento de renúncia, neste momento, é uma dificuldade para o governo poder enquadrar dentro do esforço fiscal que estamos fazendo. Vamos avaliar com mais cuidado, mas eu vejo dificuldades”. (Colaborou Laís Alegretti). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.