Em meio aos protestos contra o aumento das tarifas de ônibus que tomaram as ruas de todo o Brasil, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB) solicitou à Copel que não aplique o aumento de 14,61% na conta de luz, que foi autorizado quinta-feira, 20, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O governador e a diretoria da companhia estadual vão se reunir na próxima segunda-feira para que uma decisão final sobre o tema seja tomada.

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As novas tarifas entrariam em vigor a partir de segunda-feira, mas agora dependem do resultado da reunião entre o Estado e a Copel. À agência de notícias do governo paranaense, Richa disse na última quinta-feira que pediu à empresa para segurar o aumento da conta de luz para “tomar pé” da situação antes de autorizá-lo. No twitter, o governador fez críticas ao governo federal, argumentando que o reajuste “reflete claramente os equívocos da política de energia do governo adotada a partir de 2008”.

O aumento das tarifas da Copel foi influenciado pelo crescimento das despesas com a compra de energia. O diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, explicou na última quinta-feira que esse item teve impacto de oito pontos porcentuais no reajuste, fato criticado por Richa.

“Ao desestimular a construção de hidrelétricas com reservatórios, o governo optou pelo

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uso das térmicas, que é uma energia mais cara e mais poluente”, escreveu o governador em sua conta no twitter. Em nenhum momento, Richa ligou a decisão aos recentes protestos populares.

Mercado

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A decisão do governo paranaense, no entanto, não foi bem recebida pelo mercado de capitais. Ontem, as ações preferenciais classe B da Copel fecharam em forte queda de 16,66%, cotadas a R$ 21,21, ante o recuo de 2,40% do Ibovespa. Análises elaboradas pelo Credit Suisse e pelo UBS estimaram perda anual de R$ 500 milhões a R$ 750 milhões à estatal. Os investidores temem que a Copel volte a ser vítima de medidas populistas. O ex-governador Roberto Requião também impediu que a empresa reajustasse as tarifas em 2009.

“A simples menção dessa possibilidade causa danos à imagem da empresa, que está tentando recuperar a confiança dos investidores”, disse o analista do Credit Suisse para o setor elétrico, Vinicius Canheu, em relatório.

“Esse é um sinal ruim para as ações da Copel e pode ter um efeito devastador nos ganhos da empresa, especialmente considerando que o negócio de distribuição da Copel está ainda lutando para reduzir os custos operacionais para melhorar a eficiência”, disse o analista de um grande banco, que preferiu não ser identificado.

Na visão desse analista, caso a suspensão do reajuste seja concretizada e se as tarifas ficarem congeladas até as eleições de 2014, essa medida reduziria em R$ 5,2 por ação o seu preço-alvo para as ações PNB, hoje em R$ 41 por ação. O profissional lembrou que, nos últimos meses, os investidores se tornaram mais otimistas em relação à Copel, sobretudo no que diz respeito à política de dividendos. “Na nossa opinião, fortes dividendos vindos da Copel podem ser praticamente descartados”, avaliou o profissional.

A decisão do governador do Paraná deve contribuir para a deterioração da percepção do mercado sobre a governança corporativa da estatal paranaense, na avaliação do Bank of America/Merrill Lynch. Para os analistas Felipe Leal, Luiz Antonio Leite e Diego Moreno, esse fato também pode ter impacto negativo sobre a percepção de outras empresas estatais que prestam serviços públicos, sobretudo aquelas com decisões pendentes sobre as tarifas, como a Sabesp, empresa de saneamento de São Paulo.

As ações ordinárias da Sabesp, que passa neste momento pelo processo de revisão tarifária, fecharam ontem em queda de 6,22%, cotadas a R$ 21,70. Já as ações ordinárias da Light, que passará pela revisão tarifária em novembro, recuaram 4,94%, para R$ 15,40.

Protestos

O ambiente incerto criado pelas manifestações populares levaram os analistas do Itaú BBA a recomendar que os investidores evitem as ações de empresas estatais prestadoras de serviços públicos, como a Cemig, a Copel, a Cesp e a Sabesp. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.