As duas maiores empresas aéreas brasileiras tiveram em 2008 um desempenho nunca visto – juntas, somaram um prejuízo de R$ 2,74 bilhões (R$ 1,38 bilhão da Gol e R$ 1,36 bilhão da TAM). As duas sofreram com o impacto da desvalorização cambial sobre os ativos e sobre as dívidas em dólar. E a TAM ainda teve de contabilizar perdas com operações de hedge para combustível. Mas, apesar de aparentemente quase idênticos no prejuízo, os balanços trazem uma diferença fundamental. Na operação propriamente dita, a TAM teve lucro de R$ 688 milhões, enquanto a Gol registrou um prejuízo de R$ 88,6 milhões.

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Para o mercado, esses números ilustram um cenário que mudou muito nos últimos quatro anos. Desde 2005, a Gol passou da euforia de ser a sensação do setor aéreo e do mercado de capitais, com o seu inovador conceito de custos e tarifas baixas no País, para a frustração de valer um décimo do seu valor de mercado. Se naquela época a Gol era avaliada em R$ 13 bilhões, o dobro dos R$ 6,4 bilhões da TAM, o preço em bolsa da Gol desabou para algo em torno de R$ 1,4 bilhão, ou dois terços do valor atual da TAM, de cerca de R$ 2,1 bilhões.

Segundo analistas de mercado e consultores, o recuo no valor de mercado da Gol, conforme levantamento da consultoria Economática feito a pedido de O Estado de S. Paulo, teve forte contribuição da aquisição da Varig, em março de 2007, por US$ 320 milhões. Até outubro de 2008, essa negociação já havia custado à Gol R$ 1,2 bilhão, incluindo-se aí o valor da aquisição e prejuízos. A própria Gol reconhece que a compra da Varig teve influência para as suas perdas.

“A Gol perdeu o encanto de ser nova, ousada e criativa. Isso não acontece da noite para o dia, mas é natural que ocorra se não tomar cuidados extremos”, avalia o presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo (Cepta), Respício Espírito Santo Jr.

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Na opinião do consultor aeronáutico Paulo Bittencourt Sampaio, a compra da Varig foi a principal falta de cuidado da Gol. “A Gol mudou completamente o foco. De janeiro de 2001 a março de 2007, a Gol não cometeu um único erro. Mas a partir da compra da Varig, em março de 2007, tudo começou a dar errado”, diz.