‘Gestão conservadora’ ajudou o Brasil na crise

O ex-presidente do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, disse hoje que está “otimista” em relação ao futuro do Brasil, que, segundo ele, tem uma economia que “cresce em torno de 4% a 5% ao ano”.

Ele elogiou a “gestão conservadora” da economia brasileira durante a crise, mas alertou que ainda há grandes desafios para manter e acelerar o crescimento, como investimento em educação e infraestrutura. Outro desafio, segundo Fraga, é reduzir o custo de capital.

“Nossas taxas de juros continuam sendo das mais elevadas do mundo, esse é um tema difícil que requer paciência e muito sangue-frio”, disse ele, em palestra sobre o BRIC (grupo composto por Brasil, Rússia, Índia e China) em seminário realizado hoje no Rio.

Segundo o economista, a “gestão conservadora” da economia “ajudou muito” o Brasil a sair da crise. “Foi uma gestão bastante boa e suficiente para nos retirar da recessão em dois trimestres”, afirmou.

Fraga mostrou algumas vantagens do Brasil em relação aos demais países do BRIC, sobretudo a China. Ele mostrou dados que apontam que, entre os Brics, o Brasil tem o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) per capita (cerca de US$ 8 mil), atrás da Rússia (US$ 10 mil), mas à frente da Índia (US$ 1 mil) e da China (US$ 4 mil).

Ainda segundo Fraga, enquanto a China exibe como vantagens uma elevada taxa de poupança, uma potência exportadora e uma industrialização extraordinária, no caso do Brasil, listou a estabilidade política, a questão ambiental, a imprensa ativa e o desenvolvimento em curso do mercado de capitais.

“Estou otimista em relação ao Brasil, acho que estamos encontrando o caminho do desenvolvimento, não é algo garantido, é algo que temos que trabalhar, mas está ao nosso alcance”, afirmou.

Taxa de investimento

Armínio Fraga disse hoje que a taxa de investimento (investimento em relação ao Produto Interno Bruto) desejável para o Brasil é de 23% a 25% e acredita que esse patamar poderá ser alcançado em cinco anos.

O economista acredita que a taxa atual, de menos de 20%, não é suficiente para um crescimento sustentável nos próximos anos. “A taxa está subindo, minha esperança é que suba ainda mais, temos que investir 23%, 25% do PIB, mas isso vai exigir poupança, financiamento, capital de risco”, afirmou.

Segundo ele, o papel do Estado será fundamental para o aumento da taxa. “O problema do Orçamento no Brasil é que é muito rígido e carregado de despesas correntes”, afirmou, acrescentando que “o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem sua utilidade, mas do ponto de vista macroeconômico não teve ainda impacto relevante”.

Indagado se o crescimento de 6,4% previsto para o Brasil pelo economista do Goldman Sachs, Paulo Leme, para 2010 é possível, Fraga respondeu que “prefiro não fazer projeções de curto prazo. Que a economia está se recuperando e forte é inquestionável. Fiquei feliz de ouvir a projeção de Leme e acredito que se possa chegar lá, se é sustentável ou não é outra questão. Depois de um ano de recessão, é natural que se cresça mais”, disse em entrevista após participar do seminário sobre os Brics no Rio.

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