Rio – O ex-secretário de Política Econômica José Roberto Mendonça de Barros disse ontem que o dólar vai continuar abaixo dos R$ 2,00 ?até onde a vista alcança ou pelos próximos dois anos?. Ele também comentou que, com a acumulação de reservas por parte do Banco Central (BC) por meio da compra de dólares, ?veremos a zeragem da dívida externa?. E explicou que o câmbio atual estimulará um redesenho geográfico para o setor do agronegócio e uma nova configuração industrial no País.
Mendonça de Barros explica que o câmbio no patamar atual expõe o que ele chama de fragilidades da economia, como as deficiências e os custos em infra-estrutura. O impacto disso no agronegócio será que as atividades de exportação do setor se aproximarão cada vez mais de regiões de portos, como no Paraná, por exemplo. Ele cita ainda que o Mato Grosso, Estado onde se produz grãos mais baratos, deverá, ao contrário, atrair mais indústrias consumidoras deste insumo, como os produtores de aves e de suínos.
?O maior impacto no agronegócio vai ser na sua geografia?, comenta Mendonça de Barros. Ele também explica que os preços altos internacionais de commodities compensam em parte o câmbio baixo para as empresas exportadoras. A Sadia, por exemplo, desenvolve um projeto de grande porte em Lucas do Rio Verde. O empreendimento, da ordem de R$ 800 milhões, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), envolve dois frigoríficos, um de frangos e outro de suínos.
De forma geral, ele afirma que as commodities agrícolas ou industriais ganharão terreno nas exportações brasileiras. ?As ganhadoras serão as cadeias ligadas a commodities. Não tenho nada contra isso?, comentou. Citou, ainda, que áreas tradicionais da indústria perdem competitividade por causa da cotação baixa da moeda americana. Ele avalia que é impossível que a estrutura industrial não mude.
?Vai acontecer uma reconfiguração da indústria, não vai ser uma desindustrialização?, explica. Assim, as áreas industriais ligadas a cadeias dinâmicas de commodities (mineração, produtos agrícolas) avançarão, junto a casos de sucesso, como a Embraer e outras. De forma geral, além da redução dos setores mais prejudicados com o câmbio, haverá fusões e aquisições. ?Os ganhadores nesse cenário são as áreas de commodities e não acho isso ruim?. Em paralelo, o câmbio atual estimula a compra ou instalação de subsidiárias de indústrias brasileiras no exterior.