Gasolina vai continuar com 20% de álcool

Foto: João de Noronha/O Estado

Teor da mistura vai permanecer inalterado.

Representantes do setor sucroalcooleiro deixaram o hotel Blue Tree Ibirapuera, na capital paulista, onde se reuniram ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem convencer o presidente da República a elevar imediatamente o teor de álcool na gasolina dos atuais 20% para 25%.  

?Não há nenhuma decisão tomada. Montou-se um grupo de trabalho com o governo para estudarmos a questão da mistura?, disse Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), após o encontro. Além de Lula, estiveram presentes à reunião a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e os ministros da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, das Relações Exteriores, Celso Amorim, e de Relações Institucionais, Tarso Genro.

Segundo Carvalho, os produtores asseguraram garantia de abastecimento de álcool caso o governo autorize o aumento na mistura. ?Estamos estudando junto com o governo qual o potencial de elevação do volume de mistura de acordo com o processo de produção. Estamos em pleno processo de produção e ainda falta mais de um terço da safra para ser colhida e esta safra está mais de 12% superior à do ano passado?, afirmou.

Carvalho disse que em nenhum momento foram discutidos os preços do insumo e tampouco houve ameaça da ministra Dilma Rousseff de sobretaxar exportações ou criar outras cláusulas de barreira se houver risco de desabastecimento do combustível no mercado doméstico.

O presidente da Unica disse apenas que o setor ?reivindicou? a ampliação da mistura e que o governo, em contrapartida, estudará a medida. Além disso, os empresários cobraram melhora do sistema de logística para escoamento da safra e também das exportações, alegando que mais de 70 novas usinas estão em construção no País, o que agregará à produção nacional, na visão da Unica, mais de 200 milhões de toneladas de cana nos próximos quatro anos.

Para o dirigente, há espaço para a colocação do álcool em mercados como o dos Estados Unidos, além da expansão do fornecimento para os 30 países que já adquirem o combustível do Brasil. ?Enfrentamos problemas naturais para expansão do setor, a logística é o maior deles, para concretizarmos o sonho de o Brasil ser liderança mundial no século XXI por meio do combustível?, afirmou Carvalho.

Segundo ele, no encontro com Lula, os empresários não trataram da questão cambial, mas enfatizaram a possibilidade de o País aumentar em 5 milhões de toneladas as exportações de açúcar, uma vez que a Europa perderá mercados por não mais subsidiar seus produtores.

Governo pede plano de longo prazo para usineiros

Ribeirão Preto (AE) – Além dos números consolidados sobre estoques, produção, e exportação de álcool na safra 2006/2007, o governo pediu aos usineiros um plano de médio e longo prazo de garantias de oferta para o mercado interno como condição para aumentar de 20% para 25% a mistura do anidro à gasolina. Na reunião de anteontem entre o ministro da Agricultura, Luiz Carlos Guedes Pinto, e representantes do setor sucroalcooleiro, o governo ouviu as tradicionais reclamações dos usineiros de que a redução na mistura para 20%, decisão tomada no início do ano, pode desestimular o plantio de cana.

Só que a redução ocorreu justamente em um momento de disparada nos preços do etanol no mercado interno e da iminência de uma crise de desabastecimento. À época, o então ministro da Agricultura Roberto Rodrigues garantiu que a redução na mistura permaneceria até ao menos janeiro de 2007, quando o governo poderia ter um cenário sobre o abastecimento de álcool no período de entressafra da cana-de-açúcar no centro-sul.

No começo da safra, as exportações para os Estados Unidos dispararam e os usineiros ficaram quietos, mas bastaram o recuo nas vendas externas e as cinco semanas de queda dos preços do etanol nas usinas paulistas para os usineiros baterem às portas do governo.

Com o aumento na mistura em cinco pontos porcentuais, há um crescimento na demanda de 100 milhões de litros de álcool por mês, o que poderia trazer novas altas nos preços nas usinas. Os empresários do setor sucroalcooleiro têm como trunfo o fato de que o aumento na mistura iria reduzir os preços da gasolina. Boa notícia em época eleitoral e de pressão por aumentos no combustível derivado do petróleo, como admitiu a Petrobras.

Por outro lado, o ministro da Agricultura lembrou que os usineiros defendem o livre mercado do combustível, mas vivem sob regras como, por exemplo, a da mistura obrigatória do anidro à gasolina e não garantem o abastecimento interno. ?E se a tarifa de importação de álcool dos Estados Unidos (US$ 0,54 por galão) cair a zero, vocês vão garantir o abastecimento aqui ou vão exportar??, questionou Guedes durante o encontro de anteontem, de acordo com o relato de uma fonte.

Com o plano de longo prazo apresentado pelos usineiros, o ministro da Agricultura deve ir diretamente à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que defende a adoção de uma postura mais radical com o setor, com mecanismos de controle de exportação e até mesmo de produção.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo