O aumento no preço da gasolina neste início de semana assustou o curitibano, que dias atrás chegou a pagar cerca de R$ 2,10 pelo litro do combustível e, agora, encontra boa parte dos postos aplicando valores próximos a R$ 2,60. De um lado, o sindicato que responde pelos revendedores afirma que o aumento configura um retorno ao patamar praticado anteriormente às sucessivas quedas registradas nas últimas três semanas, alegando perdas; do outro, as distribuidoras não dão explicação para o porquê da variação. O Ministério Público, por sua vez, apesar de não se pronunciar sobre o aumento desta semana, garante que está investigando a questão dos combustíveis na capital.
Não houve variação no preço do petróleo no mercado internacional ou qualquer repasse feito pela Petrobras, informaram a Agência Nacional de Petróleo (ANP) e o Sindicato Nacional das Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom) que, apesar de não comentar o quesito ?preço?, garante que o caso em Curitiba foi pontual e diz respeito às distribuidoras locais. Como os valores não são tabelados, elas ficam à vontade para praticar os preços que quiserem. Mas, por aqui, não se explicam: a reportagem tentou contatar pelo menos duas, BR e Ipiranga. Nenhuma comenta o assunto.
Quem tenta dar uma resposta ao comprador, portanto, é o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis (Sindicombustíveis). O presidente Roberto Fregonese explica que as quedas graduais praticadas nas últimas semanas configuraram revenda a preços abaixo do custo para muitos donos de postos, os quais, em vistas das férias e a diminuição do número de veículos em trânsito, optaram por perder dinheiro e segurar o cliente.
?Janeiro é mês atípico porque cerca de cem mil veículos deixam de rodar. A queda no consumo acaba provocando desova de produto e necessidade de fazer caixa. Com isso, uma rede abaixa o preço e a outra acaba seguindo?, avalia. Segundo o presidente, houve postos em Curitiba vendendo gasolina comum a R$ 1,84, quando o preço vindo da refinaria, com tributos, era de R$ 2,06. A gangorra de preços seria estratégia dos distribuidores, asfixiando o mercado: ?Por isso oscilações grandes como essas, de R$ 0,50, nunca duram muito. Fatalmente os preços voltam ao normal.?
Ao Procon, nesse caso, cabe apenas orientar o consumidor. Pesquisas semanais são feitas em 40 postos da capital, divididos por regiões, nas quais o órgão aponta os preços praticados por cada um e as variações médias. O levantamento desta semana começou a ser feito ontem e deve estar no site www.pr.gov.br/procon até sexta-feira (16). A advogada do Procon Evanira Pinheiro, entretanto, estranha aumento tão significativo: ?Ainda que tenhamos de ouvir que houve apenas repasse das distribuidoras, vamos incluir no questionário desta semana aos donos de postos o porquê desse reajuste tão alto?.
Aumento na margem de lucro
%O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) também vê na lei de mercado possível explicação para o aumento da gasolina, mas atesta que, apesar da concorrência acirrada em janeiro, a margem de lucro para os revendedores fechou o mês com a maior média anual registrada nos últimos dois anos. É o que explica o supervisor técnico Cid Cordeiro ao comparar o balanço dos combustíveis neste início de ano, a ser divulgado hoje, em relação aos meses anteriores.
Segundo o economista, o primeiro mês de 2007 fechou para os revendedores com margem de lucro menor que a registrada no último trimestre do ano passado (13,4% contra 16,27%). ?Mas, mesmo com as quedas nos preços, foi maior que a média anual de 2005 e 2006, de 11,5%?, diz. Para Cordeiro, o aumento significa recuperar o tempo perdido: ?Acredito que é para recompor a margem registrada no fim do ano passado, aproveitando o aumento no consumo pela volta às aulas?.
Mas o presidente do Sindicombustíveis, Roberto Fregonese, questiona os números, dizendo que as oscilações registradas diariamente nos preços praticados pelas distribuidoras não são levadas em conta nesse tipo de estatística. ?Além disso, não analisam mercado. A margem se faz com o maior e o menor preço praticado, sem levar em conta custos como a CPMF, a taxa do cartão de crédito ou os valores gastos com transporte?, defende. De acordo com o presidente, a margem técnica de lucro dos postos em Curitiba no mês de janeiro ficou entre R$ 0,28 e R$ 0,35 por litro de gasolina. ?A percentagem depende do preço praticado por cada estabelecimento, mas não deve ter dado nem 5%, em termos gerais?, estima.