Gás natural inviável para cerâmicas

Há cerca de três anos, as empresas do pólo cerâmico de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, que produzem 400 milhões de peças por ano e são responsáveis por 95% da produção nacional, vibravam com o que poderia ser um salto para a competitividade do setor: o gás natural. Oferecido com várias vantagens, como qualidade e, sobretudo, redução nos custos de fabricação, o gás foi adotado por praticamente todas as 36 indústrias do setor, que consomem 60 milhões de metros cúbicos por ano. Hoje, muitas se arrependem do investimento.

“Quiseram nos deixar dependentes para depois subir o preço à vontade”, disse o gerente de queima da Porcelana Schmidt, Martin Alfredo Schmidt. Somente o item qualidade permanece, tanto que ele é utilizado na Schmidt para os produtos com maior valor agregado – cerca de 210 mil de 1,2 milhão de peças produzidas por mês. Segundo o Sindicato da Louça de Campo Largo, o reajuste do gás natural boliviano foi de 73,62% em pouco menos de um ano, tornando as indústrias “reféns de um programa em crise”.

A Schmidt tem três dos cinco fornos de sua unidade de Campo Largo movidos a gás natural, mas já está fazendo estudos para abandonar esse combustível, optando pelo diesel, querosene ou até mesmo o forno a lenha – um deles já foi reativado, com a desativação de um de gás natural -, visto que a empresa tem vasta extensão com reflorestamento. A compra de um novo forno movido a gás natural -para substituir o maior, que é a lenha -, num valor aproximado de R$ 2 milhões, também está sendo repensada. As parcelas vêm sendo pagas, mas o combustível pode mudar. “Estamos procurando outras alternativas”, confirmou Schmidt.

“As indústrias chegaram à situação limite”, atestou o vice-presidente da entidade, José Canisso. A queima do gás como fonte energética equivale a cerca de 40% dos custos. “O setor não tem mais condições de arcar e muito menos repassar tantos custos”, lamentou. O pólo emprega 14 mil funcionários direta e indiretamente no município.

Os funcionários têm data-base em maio e as empresas encontram dificuldade para repassar o INPC.

De acordo com o sindicato, o contrato firmado pela Petrobras com a Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB) prevê pagamento em dólar. A estatal brasileira teria assumido a diferença cambial e a repassado ao consumidor final. Canisso disse que já foram feitos diversos contatos com a Petrobras para negociar preços mais acessíveis. “Mas ela simplesmente desconhece os clientes. É dona do monopólio e não conversa com ninguém”, criticou.

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