Ganho com ações eleva remessas de lucro ao exterior

A média anual de remessas ao exterior de lucros obtidos por estrangeiros em aplicações financeiras no governo de Luiz Inácio Lula da Silva é bem maior que a vista na gestão anterior. Dados do Banco Central revelam que, na média, estrangeiros têm remetido anualmente US$ 4,87 bilhões em lucros desde 2003. A cifra é 277% maior que a vista entre 1995 e 2002, quando somou US$ 1,29 bilhão. O salto coincide com a volta da lucratividade das aplicações em ações, já que por 12 anos seguidos as remessas financeiras eram originadas exclusivamente nos juros pagos pelos títulos de renda fixa.

Números do BC mostram que estrangeiros nunca remeteram tanto lucro obtido no Brasil em investimentos em títulos de renda fixa e na Bolsa de Valores. Em 2009, foram enviados US$ 7,45 bilhões, o segundo maior valor da série histórica iniciada em 1979. O recorde ainda é de 2008, ano do agravamento da crise, quando foram enviados US$ 8,52 bilhões. Essas marcas históricas são explicadas pela maior importância do Brasil no mercado global após o grau de investimento em 2008, valorização do real e a forte saída de recursos em meio à recente crise.

“O quadro reflete um estoque elevado de investimentos estrangeiros em ações e títulos. Hoje, o estrangeiro está muito mais presente no mercado brasileiro. Além disso, os últimos anos foram afetados pela crise, que exigiu a remessa de lucros para a cobertura de perdas em outros países”, explica a professora e pesquisadora do Instituto de Economia da Unicamp, Daniela Prates. As remessas têm crescido ininterruptamente desde 2003, exatamente no primeiro ano do governo Lula. Na comparação com 2001, o total de remessas do ano passado é 560% maior.

A percepção de economistas da equipe econômica é que o aumento dessas remessas era esperado e não surpreende por três fatores: o Brasil passou a ter posição relevante no mercado financeiro global nos últimos anos, o que resulta em cifras crescentes; ações brasileiras apresentaram forte valorização e expressivo volume de dividendos no período recente; a valorização do real favorece a remessa de lucros ao exterior.

Além de recordes, as remessas também têm passado por uma mudança estrutural. Durante 12 anos, entre 1995 e 2006, todas as transferências de lucros financeiros eram originadas em aplicações em renda fixa. Isso quer dizer que estrangeiros só ganharam em investimentos que acompanhavam o juro brasileiro que, por muitos anos, foi o maior do planeta. Desde 2007, porém, o quadro mudou e as ações voltaram a gerar lucro remetido para o exterior. Naquele ano, 24,2% das remessas foram originadas no mercado acionário. No ano passado, a fatia das ações no total das transferências foi de 23,6%.

Para a professora da Unicamp, as remessas de lucros em ações e títulos devem ganhar cada vez mais espaço na comparação com os ganhos obtidos por investimentos produtivos, como em filiais de multinacionais. “À medida que o Brasil ganha importância como mercado global, as remessas se tornarão parte mais relevante na renda financeira que os estrangeiros obtém no Brasil. Com o tempo, esses investidores passarão a contar cada vez mais com o rendimento das ações e dos papéis brasileiros”, diz.

Ao todo, estrangeiros remeteram US$ 25,21 bilhões em remessas de lucros e dividendos em 2009. Desse valor, a maior parte – de 70,5% ou US$ 17,76 bilhões – foi gerada em investimentos produtivos, como nas filiais de multinacionais, e cerca de um terço – fatia de 29,5% ou US$ 7,45 bilhões – foram gerados em aplicações financeiras como ações e juros.

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