Mesmo com a crise no mercado de crédito de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos (subprime) trazendo dificuldades em operações no exterior – como o adiamento do empréstimo de US$ 20 bilhões para a compra da Chrysler pelo Cerberus -, os planos de consolidação por empresas brasileiras não devem ser afetados. No Brasil as operações estão distantes do contágio, uma vez que, segundo especialistas, a maior parte das transações entre companhias locais é feita com capital próprio.
Além disso, elas têm a opção de usar suas próprias ações como moeda, a exemplo do que ocorreu no ano passado com a compra do BankBoston pelo Itaú, da Vivax pela Net e a fusão de Submarino e Americanas.com, que resultou na B2W. Se a volatilidade persistir e continuar a derrubar as bolsas, o que pode vir a acontecer é uma mudança nos preços relativos das empresas envolvidas nas operações. "Lógico que o comportamento dos mercados pode influenciar um pouco, no primeiro momento, mas não de forma contundente", observa o professor Haroldo Mota, da Fundação Dom Cabral.
Pesquisa da KPMG revela que no primeiro semestre deste ano foram registradas 294 fusões e aquisições no País. O volume foi 28% maior do que no mesmo período do ano passado. Foram 123 operações entre companhias domésticas, com avanço de 53%. Já as transações onde a ponta compradora era estrangeira passaram de 103 para 124. As lideradas por brasileiras adquirindo estrangeiras ficaram em 47 negociações. Os setores que mais se destacaram no semestre foram: alimentos, bebidas e fumo (31 operações), tecnologia da informação (23), produtos químicos/ petroquímicos e shopping centers (22 cada) e metalurgia e siderurgia (20).
No mercado, no entanto, fala-se em números ainda mais expressivos, da ordem de 411 transações realizadas no período de janeiro a julho, ante 573 em todo o ano passado. Raul Beer, sócio da PricewaterhouseCoopers, acredita que esse volume pode chegar a 750 negócios até o final de 2007, sendo as médias empresas responsáveis pela maior parte dos negócios.
Potencial de crescimento
Os especialistas observam que uma operação de compra é desenhada ao longo de meses e até mesmo anos. São negociações extensas e complexas, envolvendo estruturas acionárias, acordos de acionistas e estratégia de negócio. Por isso, é consenso entre executivos de importantes consultorias que não será uma mudança no cenário macroeconômico externo de curto prazo que vai alterar o curso de uma transação com todas essas variáveis.
Assim, no entender de Beer, o que acontece hoje no cenário de fusões e aquisições do Brasil não é reflexo do excesso de liquidez internacional ou de uma onda especulativa. Para o executivo, é o potencial de expansão da economia que chama a atenção.
Beer explica que se o País crescer a taxas de 4% a 5% ao ano, as empresas terão que investir simplesmente para garantir suas fatias no mercado. Se quiserem avançar em market share precisarão estar dispostas a estratégias ainda mais agressivas. Nesse sentido, os competidores têm duas opções para expandirem os negócios: montar um novo parque ou comprar um já em funcionamento.
Como as empresas se juntam para ganhar tamanho, escala, melhorar suas estruturas de custo fixo e aumentar a rentabilidade do negócio, conforme observa Ricardo Fleury, Sócio da Trevisan Consultoria, os movimentos de aquisições são contemplados nos planos estratégicos de qualquer corporação.
E se 2007 deve terminar com números expressivos de fusões e aquisições, as perspectivas daqui para frente são ainda melhores. Cláudio Ramos, sócio de Corporate Finance da KPMG, enxerga um cenário ainda mais promissor quando o Brasil atingir o grau de investimento. Ele lembra que há muitos fundos interessados em participar de empresas nacionais e que hoje têm restrições porque o País ainda não é investment grade. "Mas, tão logo consiga devemos assistir a uma segunda onda de compra de empresas.