Pelo menos 10% das lavouras estariam contaminadas. |
A proliferação intensa de uma espécie de fungo de solo que existe normalmente no solo está afetando 30 mil hectares plantados com soja em vários municípios da região Noroeste do Estado atendidos pela Cocamar, o que corresponde a 10% da área total. Segundo especialistas, o fungo ocorre principalmente onde a drenagem do solo é ruim devido a fatores como compactação ou o fato de ser excessivamente argiloso. Nos solos de arenito caiuá, onde a drenagem é melhor, não há registro do problema.
Em Ivatuba, 10% das lavouras foram comprometidas, segundo o gerente da Cocamar, José Claudemir Menegon. Grande parte dos produtores já fez o replantio. Em Maringá, de 2 a 3 mil hectares já foram replantados ou a operação está sendo finalizada – o que corresponde a 7% do total cultivado no município. Em Floresta, ainda não foi concluído o levantamento das áreas afetadas. “Há muitas lavouras em fase de recuperação”, observa o gerente da Cocamar, José Conti. Os prejuízos ocorreram em menor escala na região de São Jorge do Ivaí e o replantio só será necessário em 1% a 2% do total, segundo técnicos da cooperativa.
“Em alguns lugares é possível encontrar vários metros sem nenhum pé de soja”, afirma José Fachina, dono de 80 alqueires (193 hectares) em Jussara, região de Cianorte. De um modo geral, o ataque é observado em toda a lavoura, mas em oito alqueires plantados no dia 6 de novembro, a intensidade foi maior, chegando a afetar 40% da área, calcula o produtor.
O engenheiro agrônomo Evandro César Borghi, da Cocamar/Jussara, explica que o fungo que tem causado estragos na soja é o mesmo que ajuda na deterioração da palhada. Como o inverno e a primavera foram de clima seco, a palhada permaneceu em grande quantidade no solo. À espera da chuva, muitos produtores plantaram no seco. Com a chegada das chuvas, o fungo de solo começou a se multiplicar justamente no momento em que emergia a soja.
Borghi lembra ainda que o excesso de chuva, aliado a temperaturas amenas à noite e forte calor durante o dia, facilitaram a proliferação. “O problema ocorreu principalmente onde há compactação do solo, dificultando a drenagem da água da chuva”, acrescenta Antônio Sacoman, coordenador técnico de grãos da Cocamar.
Segundo Sacoman, a compactação do solo está se tornando um problema sério em toda a região devido à falta de rotação de culturas. “Os produtores plantam somente soja e milho”, completou.
Produtores preocupados
Segundo o gerente da Cocamar/Jussara, Cláudio Dias, 30% das lavouras de soja do município foram afetadas. Mas alguns produtores calculam prejuízos maiores. “Dos 71 alqueires que plantamos, pelo menos 28 foram afetados”, lamenta o agricultor Claudecir Gussi.
Preocupado, ele diz que é a primeira vez que o problema ocorre por ali. “Mal começa a nascer, a soja vai requeimando e morre. E a que ficou, não vem se desenvolvendo bem. Do jeito que está, é difícil fazer uma previsão”, comenta.
O fungo tem atacado principalmente as lavouras plantadas depois do dia 20 de outubro e onde foram usadas as variedades aparentemente mais suscetíveis: Coodetec 202, BR 133 e Embrapa 48.
Manejo
O pesquisador da Embrapa Soja José Tadashi Yorinori destaca que é preciso fazer um diagnóstico preciso do que tem causado o problema na propriedade, antes de tomar uma decisão sobre o que fazer. Também é preciso esperar o fungo baixar sua atividade, antes de replantar onde a soja foi incorporada ao solo, e escolher as variedades que têm apresentado maior resistência.
Outro ponto fundamental, a seu ver, é a rotação de culturas, especialmente no verão. “Se no próximo ano tivermos chuvas abundantes e calor novamente, a população de fungos pode aumentar ainda mais”, alerta. Para ele, o produtor não pode ficar contando com condições climáticas adversas ao fungo ou com uma ação mais efetiva dos seus inimigos naturais.
Como ocorre e o que fazer para evitar
Especialistas recomendam especial atenção por parte do produtor, para que não passe despercebido o início da infestação. Por isso, algumas recomendações que devem ser observadas:
O ataque do fungo ocorre normalmente todos os anos, causando danos de pouca importância e nem sempre sendo percebido pelo produtor. este ano, favorecida por uma série de fatores, a população do fungo aumentou em mais de 50%; lavouras plantadas após o dia 20 de outubro são as mais prejudicadas. O fungo atinge as plantas ainda em fase de emergência, quando “requeimam” e têm seu desenvolvimento prejudicado ou morrem; as variedades que têm apresentado maior sensibilidade ao ataque são Coodetec 202, Embrapa 48 e BR-133.
O que fazer
A curto prazo, os técnicos recomendam que o produtor não saia replantando, pois o ataque pode ocorrer novamente; dependendo do desenvolvimento da planta, o replantio pode ser até evitado; como o período ideal para o plantio de soja na região vai até 15 de dezembro, sugere-se aguardar até que o fungo diminua sua atividade; se possível, escolher variedades menos suscetíveis; a safra de verão do próximo ano poderá enfrentar o mesmo problema se houver excesso de umidade e variação brusca de temperatura, com calor forte durante o dia e frio à noite, como agora. A solução, segundo os técnicos, é a rotação de culturas, que “quebra” o ciclo das doenças e proporciona às plantas um bom desenvolvimento radicular.
O produtor deve, porém, procurar a assistência técnica e orientação especializada, para que não ocorram novas infestações em razão de alguma iniciativa que não seja a correta.
As cooperativas mantêm pessoal especializado para prestar esclarecimento aos produtores.