Quem viu a Bolsa começar o ano com o pé direito, avançando mais de 7% em janeiro, provavelmente ficou tentado a correr um pouco mais de risco. Com a tendência de queda da Selic, a taxa básica de juros da economia, a renda fixa começa a perder a graça e abre espaço para outros investimentos.

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No lugar de mergulhar de cabeça em ações ou outros ativos mais arriscados que exigem mais conhecimento, os analistas indicam que o investidor comece com os fundos multimercado. Essa aplicação é híbrida e mistura em um mesmo pacote renda fixa, ações ou moedas.

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Em 2016, os fundos multimercados tiveram uma captação líquida de R$ 20,3 bilhões, após amargar uma saída de recursos de R$ 31,7 bilhões um ano antes, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os números reforçam a orientação dos analistas de que é um bom momento para direcionar parte dos investimentos aos multimercado.

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As opiniões sobre a continuidade do bom momento das ações, contudo, não são unânimes. O professor de finanças da FGV, William Eid, diz ser cético quanto a mais um salto do Ibovespa, principal índice de ações do Brasil. “Não há dados concretos sobre a economia e balanço das empresas que justifiquem o desempenho do mercado acionário.”

Já a consultora de investimentos da Órama, Sandra Blanco, vai na contramão e defende que há espaço para que o ano seja positivo para as ações e, por consequência, os multimercados. “Tivemos muitas empresas que, apesar de ainda não terem se recuperado totalmente, tiveram altas efetivas das ações.”

Sandra conta ainda que até, no mercado de câmbio, os gestores conseguem ganhar na oscilação da moeda e garantir um bom retorno para o investidor. “Mesmo que um ativo tenha um desempenho ruim, o gestor do fundo consegue montar uma estratégia com os outros produtos que estão indo bem e garantir um bom retorno.”

Mesmo após a inesperada morte de Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, que poderia dar uma balançada no humor dos investidores, o mercado parece olhar com bons olhos os passos do governo em direção ao ajuste fiscal e à implantação das reformas, como as mudanças na Previdência.

É fato que a economia ainda não mostra sinais animadores de recuperação: o desemprego está em 12%, enquanto as contas públicas fecharam 2016 com rombo recorde de R$ 155,7 bilhões (ou 2,47% do PIB).

Projeções. Mas já há alguma melhora nas projeções. Analistas esperam que a inflação encerre o ano em 4,7%, segundo o relatório Focus, do Banco Central. O próprio presidente do BC, Ilan Goldfajn, sinalizou em entrevista ao jornal britânico Financial Times o desejo de que a meta de inflação brasileira seja reduzida após 2018. O novo nível de inflação deve trazer também juros menores.

Miguel Oliveira, diretor de pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), também acredita que a conjunção desses acontecimentos indica que será um bom ano para repensar os investimentos. “Para que correr risco quando os juros estão altos? Mas se eles caem, quer dizer que a economia vai melhorar, as empresas vão vender mais e as ações vão subir.”

Oliveira lembra, porém, que não é indicado tirar do radar possíveis sobressaltos na cena nacional, como os desdobramentos da Operação Lava Jato e a decisão sobre a cassação da chapa Dilma-Temer. Para completar o rol de incertezas, as medidas que Donald Trump pode implementar nos Estados Unidos devem respingar por aqui.

Apesar do elevado nível de incertezas, a agência de classificação Moody’s é outra que indica uma mudança na alocação, diz o analista sênior, Diego Kashiwakura.

Carteira. Oliveira, da Anefac, lembra que aqueles que aceitam correr risco não podem esquecer de perguntar o que compõe a carteira do fundo. Ele reforça que a aplicação em multimercado é para médio e longo prazos, e aquelas que possuem ganho maior acabam cobrando taxas de administração maiores. Há, ainda, a taxa de performance, que corresponde a um porcentual do retorno.

A Rio Bravo abriu a mais investidores um multimercado em janeiro. A taxa de administração é de 1,44% ao ano, com taxa de performance de 20% sobre o que exceder 100% do CDI. O investimento mínimo é de R$ 10 mil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.