Criado originalmente com o objetivo de atenuar os efeitos de ciclos econômicos e fomentar projetos de interesse do País no exterior, o Fundo Soberano Brasileiro (FSB) passou a concentrar 80% de todo o patrimônio, de R$ 18 bilhões, em ações da Petrobras. Contando com os recursos aplicados na oferta do Banco do Brasil, realizada em julho deste ano, o fundo hoje conta com mais de 90% da carteira em ações de estatais federais.
Na análise de especialistas, a estratégia do governo contraria o preceito básico dos investimentos de “nunca colocar todos os ovos em uma cesta só”. Entre segunda e quinta-feira, os papéis ordinários (ON) da estatal, que respondem por 56,5% do total de recursos do fundo, acumulam queda de 7,5%. Com a oscilação das ações, o fundo perdeu aproximadamente R$ 730 milhões desde o início do mês. Do ponto de vista de gestão dos recursos, a concentração eleva o risco da carteira. A diversificação se presta justamente a evitar que a oscilação de um único ativo comprometa todo o patrimônio.
Criado em 2008, o Fundo Soberano foi capitalizado com títulos públicos originários de uma reserva fiscal. Após a compra dos papéis da Petrobras, porém, praticamente se esgotaram os recursos para investimentos, até mesmo para a atuação no mercado de câmbio, uma das intenções do governo. Os dados da carteira, referentes ao fim de setembro, mostram que o fundo acabou não sendo usado para conter o excesso de dólares que entraram por causa da oferta da Petrobrás.
Para Felipe Salto, economista da consultoria Tendências, ao concentrar o portfólio em ações de estatais, o Fundo Soberano até o momento não cumpriu sua função de fato e serviu apenas para executar a estratégia do governo de ampliar a presença do Estado na economia. Ao final da capitalização, o governo ficou com 49% do capital da companhia (incluindo União, Fundo Soberano e BNDES), ante uma fatia anterior de 39,8%.
Ele avalia que, apesar do impacto neutro no curto prazo, já que a compra das ações da Petrobrás e do BB foi feita com sobra de recursos, existe risco fiscal caso o governo venha a se endividar mais para manter essa política. Salto considera, porém, legítimo o uso do fundo para conter a valorização do real. “Em vários países o Ministério da Fazenda possui instrumentos para atuar no mercado de câmbio.”
Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, os recursos do fundo deveriam ser usados para financiar os projetos de internacionalização das empresas brasileiras – estatais ou não – a partir da compra de dólares no mercado. “Essa seria uma forma de manter os recursos fora do País e ajudaria as companhias brasileiras a ampliar a capacidade de competir no mercado global”, afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.