A indefinição sobre o reajuste do preço do fumo na safra 2003/2004 preocupa os fumicultores paranaenses. No ano passado, os produtores receberam média de R$ 4,19 por quilo, mas em função da falta de produto no mercado internacional, eles chegaram a ganhar até R$ 6 no final da safra. Animados pela melhora da cotação, aumentaram a produção e agora estão esperando que a indústria feche um acordo para recuperar as perdas do período. Enquanto o custo de produção aumentou 53%, as fumageiras estão pagando provisoriamente uma correção de 23,25% sobre a tabela básica da safra passada (R$ 4,00/quilo), o que dá R$ 4,93.
Mas a alta real, segundo a Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil) é de 17,66%, já que numa negociação posterior, as indústrias deram mais 6% de bônus no ano passado, elevando o valor de referência para R$ 4,19/quilo (fumo classe BO1). Na negociação com o Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo no Brasil), os representantes dos fumicultores reivindicam elevação de 79,2%. Diante do impasse, as negociações irão continuar, mas ainda não foi acertada uma nova reunião entre as partes.
No Paraná, terceiro produtor de fumo no ranking nacional, um dos municípios que mais ampliou a produção é o de Guamiranga, na região Sul do Estado. “Das 1.450 propriedades rurais, 1.300 têm fumo”, relata o chefe do Departamento de Agricultura do município, Arno Rodolfo Bonetti. Isso significa um aumento de 30% sobre as mil estufas de fumo existentes no ano passado.
Há oito anos na atividade, o produtor Irineu Moleta possui duas estufas para uma plantação de 100 mil pés em Alto do Tigre, município de Guamiranga. Colheu 11 mil quilos de fumo no ano passado e prevê colher entre 12,5 mil e 13 mil quilos nesta safra. Mas ao contrário do último ano, não vendeu nada até agora. “Não mandei fumo ainda porque estão pagando muito mal e o insumo subiu bastante”, relata. O saco de adubo está custando R$ 52,50. Plantador da Universal, Irineu está recebendo entre R$ 2,30 e R$ 2,50 por quilo, conforme o tipo de fumo produzido. “Deveria ser no mínimo R$ 3,50”, argumenta. Para complementar a renda, Irineu plantou quatro alqueires de soja na propriedade.
Atípico
O chefe do Departamento de Agricultura de Guamiranga reconhece que o valor recebido neste ano não é o ideal, porque não cobre os custos de produção, que aumentaram em torno de 40% na região. Os itens que mais subiram, segundo Arno, foram adubo, defensivos, lenha e mão-de-obra. “Esperamos que as companhias venham acrescentar isso no custo final do produto, como acontece todo ano”, frisa.
Mas ele ressalta que, no ano passado, o ganho dos produtores foi superior ao estabelecido no acordo com o Sindifumo em virtude da falta de produto no mercado. “As fumageiras precisavam de fumo para saldar compromissos no exterior. Alguns atravessadores entraram na região, que é uma das últimas a colher, pagando até R$ 6 em alguns casos”, recorda. “O pessoal esquece que foi um ano atípico por falta de produção, mas o preço do fumo continua bom e como as companhias já se comprometeram a fazer o reajuste retroativo, o valor pode chegar a R$ 5,60”, estima Arno. No setor, comenta-se que as companhias fumageiras estão segurando a definição do preço final para não haver desvio de produção, desestabilizando assim os intermediários.
Estimativas
Com aproximadamente metade da safra 2003/2004 colhida, a Afubra estima que a produção nacional de fumo atinja 856.370 toneladas, o que representaria um incremento de 42,5% sobre a colheita da safra passada. Com este volume, o setor deverá injetar perto de R$ 4 bilhões junto às 190 mil famílias de agricultores integrados dos três estados do Sul do Brasil. As exportações neste ano devem alcançar o patamar de US$ 1,4 bilhão, sendo um dos principais itens de exportação da Região Sul. O resultado do ano passado foi prejudicado pelas fortes chuvas que reduziram o peso do fumo principalmente no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional. A estimativa era colher 700 mil toneladas.
Para a safra 2003/2004, a Afubra projeta produção de 445.440 toneladas no Rio Grande do Sul, 274.640 em Santa Catarina e 136.290 no Paraná – o que significa um aumento de 49,7% em relação ao total do ano passado (91.010 toneladas). O número de fumicultores no Paraná vem crescendo: 23.930 na safra 01/02, 27.240 na 02/03 e 34.240 na atual. A produtividade estimada para o fumo paranaense é de 2.040 quilos por hectare, contra 1.803 quilos na safra passada.