O ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos, Gustavo Franco, avaliou que a frase do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta segunda-feira, 30, pelo Banco Central, sobre o superávit primário do setor público é “chocante”. O Banco Central avaliou no relatório que atualmente “não se faz necessária” a geração de superávits primários do setor público de ampla magnitude. Segundo o BC, essa necessidade de gerar superávits maiores existia quando havia preocupação de solvência do setor público, o que não ocorre agora.

continua após a publicidade

Franco, que disse não ter lido o relatório por inteiro e que não conhecia o contexto, ao ser informado da posição do BC falou: “Apenas por esta frase, discordo frontalmente e acho uma perda de foco imensa”. O economista respondeu ainda sobre a avaliação de outros economistas de que, apesar de ser esperado um grande déficit em contas corrente neste ano, o Brasil possui condições favoráveis de financiamento. “O Brasil tem amplas condições de financiamento, mas o País já tem uma dívida muito elevada”, comentou. “O que acontece com países de dívida grande é que ela sufoca o mercado de capitais”, ponderou. “É factível para o governo ter um endividamento maior e, portanto, um superávit menor, mas não é desejável porque isso sufocaria ainda mais o mercado de capitais”, opinou.

Sobre se uma retirada de estímulos à economia americana pelo Federal Reserve poderia provocar uma fuga de capitais de outros países, ele afirmou que há um “nervosismo excessivo” do mercado em relação ao tema. “Essa normalização da política monetária americana é algo que vai se realizar ao longo de vários anos. O que quer que vá acontecer, acontecerá muito gradualmente”, disse. “O Fed comunicou isso, mas os mercados exageraram um pouco na interpretação do assunto. Acredito que já passou um pouco a excitação e o mercado já se convenceu de que vai demorar.”

Câmbio

continua após a publicidade

Questionado sobre se o dólar no Brasil estaria flutuando mais uma vez dentro de uma “banda cambial”, agora entre R$ 2,20 e R$ 2,35, Franco afirmou que o regime atual é de “bandas cambiais indizíveis”. “Vejo autoridades dizendo que o regime é flutuante”, mas há bandas que são indizíveis, mas existem”, afirmou.

Ele ponderou, porém, que acredita ser positivo que hoje os debates sobre crescimento do país não estejam exclusivamente atrelados ao câmbio. “Essa é uma discussão que me parece superada, não é o câmbio que vai prejudicar o desempenho”, disse. (Dayanne Sousa – dayanne.sousa@estadao.com)

continua após a publicidade