O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco defendeu “a privatização das reservas cambiais” como um dos principais elementos que podem diminuir as pressões de apreciação do câmbio do Brasil.

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Em conversa com jornalistas no intervalo do 5º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais, em Campos do Jordão (SP), ele detalhou que sua ideia consiste em que brasileiros e empresas, inclusive fundos de investimentos, possam comprar ativos como imóveis e ações no exterior.

“Quando o governo permitiu, de forma acertada, que empresas de comércio exterior não precisavam mais trazer primeiro para o país os recursos que depois deveriam ser remetidos novamente para fora, para honrar compromissos financeiros, isso permitiu que ficasse no exterior cerca de US$ 50 bilhões”, comentou. “Da mesma forma, por que vocês não podem comprar ações da Apple que estão baratas ou um imóvel na Flórida?”, questionou.

Gustavo Franco também destacou que outro mecanismo para evitar a valorização excessiva do real numa conjuntura internacional que mostra que o fluxo de capitais para o Brasil não é um fenômeno temporário, seria a criação de “condições estruturais” para reduzir os juros do País na direção de taxas internacionais.

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Ele destacou que a melhor estratégia seria uma política fiscal mais firme do que a atual adotada pelo governo. Segundo ele, a atual geração de 4% do PIB de superávit primário precisa ser vista em perspectiva, pois ela se baseou em alguns artifícios, especialmente no primeiro semestre, como a contenção de investimentos públicos e o avanço acima do esperado da arrecadação federal.

“É preciso fazer uma superávit primário maior, com melhor qualidade. O tamanho exato não sei precisar, mas tudo indica que os atuais 4% do PIB apenas estabilizam o tamanho da dívida pública em relação ao produto interno bruto. E isso não é suficiente”, afirmou.

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O ex-presidente do BC destacou que a má gestão fiscal do País faz com que a taxa nominal de juros esteja em 12,50% ao ano, quando poderia estar num patamar bem mais baixo, dado que a taxa de risco país está 1,5 ponto porcentual acima dos Treasuries dos EUA. “Para ter juros de primeiro mundo é preciso ter gestão fiscal de primeiro mundo. Mas não do primeiro mundo de agora e, sim, de cinco anos atrás”, disse.

IOF

Gustavo Franco afirmou ainda que seria oportuno que o governo deixasse de cobrar 1% de IOF sobre a diferença de operações vendidas e compradas de câmbio futuro acima de US$ 10 milhões.

Ele afirma que essa medida afeta diretamente o exportador, sobre tudo para realizar hedge de suas operações comerciais. “A preocupação com valorização excessiva de câmbio é legítima e medidas que são necessárias devem ser tomadas. Não tenho nenhuma restrição ideológica em relação a isso. Até porque, algumas delas colaborei na adoção quando estava no governo”, afirmou. “Contudo, há ações estruturais mais eficientes que fazem com que caia o juro elevado que atrai o capital de curto prazo, como a melhor gestão fiscal”, disse.

O ex-BC fez alguns elogios ao governo em relação a gestão da política macroeconômica. “É bom sinal ver que o governo mudou o discurso da gestão da política fiscal, ao contrário do que fez em 2008, quando acreditava que a adoção de políticas anticíclicas (de gastos oficiais) funcionavam para tudo”, afirmou.

Por outro lado, também considerou positiva a manifestação de autoridades do governo que estão avaliando que o movimento de apreciação do câmbio é de longo prazo.

“É bom ver que o governo não vê a questão da apreciação do real em relação ao dólar hoje como populismo cambial, como já afirmou no passado o atual ministro da Fazenda”, ponderou.

Franco não acredita que a economia mundial entrará em recessão no curto prazo e, sim, no baixo crescimento registrado especialmente nos EUA, Europa e Japão, na casa do 1%, por alguns anos.

Ele chegou a mencionar que há vozes no governo que até chegaram a torcer para que a crise fosse mais aguda, com desaceleração global mais forte, redução rigorosa de preços de commodities, o que permitiria uma queda mais veloz dos juros.

No entanto, para ele, redução da taxa Selic só pode ser obtida a partir de um esforço fiscal rigoroso do governo. Ele não quis se manifestar sobre qual deveria ser a estratégia do BC de agora até o final do ano no manejo do juros. “A inflação não está feia, mas também não apresenta patamares de conforto”, afirmou.