Fraga diz que previsão de juro menor só em 2003

São Paulo

– O presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, disse ontem que a decisão da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de introduzir o viés de baixa teve como foco a inflação de 2003, e não a deste ano. Por faltarem apenas quatro meses para a conclusão de 2002, este não seria o “espaço natural da política monetária”, explicou Fraga.

Ao participar de teleconferência promovida pelo AE-News Broadcast ontem pela manhã, o presidente do BC disse que a projeção para a inflação de 2003 está “bastante inferior” à meta de inflação de 4%, com um intervalo de 2,5 pontos porcentuais para cima ou abaixo, mas ele não citou projeções. “Nossa estimativa de inflação para 2003 parte do pressuposto de que vamos administrar esta fase de turbulência”, afirmou, apostando que haverá estabilização de expectativas com base na convicção de que o próximo presidente da República conduzirá a macroeconomia com “estabilidade e bom senso”, e também com ajuda do acordo negociado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê o desembolso de US$ 24 bilhões ao longo de 2003.

“A introdução do viés foi uma sinalização de que entendemos que é possível, a qualquer momento, um aumento no grau de conscientização de que nós, enquanto País, vamos administrar bem o nosso destino e, a partir disso, seria recomendável uma redução dos juros”, disse.

Desde a última reunião do Copom, Fraga disse que o cenário não mudou, mas admitiu as dificuldades para o corte dos juros. “Eu diria que o pano de fundo global tem nos atrapalhado”, afirmou.

Linhas externas

Fraga disse que a baixa demanda do mercado nos leilões de linhas comerciais é “um sinal extremamente positivo”. Segundo ele, já há sinais preliminares de retomada de oferta de linhas externas. Ele citou também o noticiário da imprensa de que há outros sinais mais qualitativos na mesma direção. Esta foi a resposta dada pelo presidente do BC ao fazer um balanço da retomada das linhas de crédito, após a viagem das autoridades brasileiras aos Estados Unidos.

“A resposta à nossa viagem foi muito boa”, disse Fraga. Ele informou também que o ministro da Fazenda, Pedro Malan, irá, nos próximos dias, para a Europa, visitando Madri, Londres e Paris, enquanto ele próprio irá para a Alemanha e Holanda, além de participar de reunião, na Basiléia, do BIS (Banco para Compensações Internacionais), que será seguida de um encontro de dois dias entre presidentes de bancos centrais de todo o mundo. O embaixador Marcos Caramuru, do Ministério da Fazenda, irá ao Japão nos próximos dias para conversar com representantes dos bancos.

Superávit

O presidente do BC admitiu haver expectativa de que o superávit primário de 2002 seja “ligeiramente superior” aos 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB) inicialmente anunciados. Fraga não confirma a projeção de elevação do superávit para 3,90%, noticiada pela imprensa, embora, segundo ele, o aumento não altere em nada a meta para 2003, que continua, como fixada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), em 3,75%.

Em relação às eleições, Fraga destacou dois momentos que serão decisivos nos próximos meses. Segundo ele, será decisiva a atitude inicial do novo presidente da República, logo depois da apuração dos votos. Nas conversas entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e os candidatos, das quais o ministro Pedro Malan e Fraga participaram, o presidente do BC disse que viu “grande entusiasmo” para que os meses de outubro e novembro sejam aproveitados na definição de uma agenda de reformas, o que segundo ele, teria um impacto positivo nas expectativas do mercado. O segundo momento decisivo será o período inicial após a posse do novo governo, quando as primeiras medidas serão anunciadas. “São dois momentos importantes e oportunidades para sairmos de maneira definitiva deesse clima de angústia financeira e voltarmos a crescer”, disse.

Ao responder a uma pergunta sobre a possibilidade de uma nova redução do piso líquido das reservas internacionais em 2003 até para um volume negativo, o presidente do BC disse que há precedentes nas negociações com o FMI. Segundo ele, a redução não é uma “coisa rara” em programas do FMI, se as circunstâncias justificam essa necessidade. Fraga lembrou que, na última negociação, já houve redução do piso de US$ 15 bilhões para US$ 5 bilhões . “É muito mais fácil renegociar o piso do que iniciar um novo acordo ou ampliar o volume do acordo”, afirmou.

O presidente do BC disse que imagina uma redução do piso se o ambiente financeiro internacional continuar hostil. Mas essa hipótese não seria possível, segundo ele, se a redução fosse solicitada em razão de “um deslize” na condução das políticas internas. “Como não tenho essa expectativa, vejo como sendo algo factível e natural uma eventual redução do piso num ambiente menos favorável em 2003”, disse.

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