A água como um bem público, não privatizável, é uma das principais conclusões do Fórum Internacional ?Diálogos sobre a Bacia do Prata?, que terminou ontem, em Foz do Iguaçu, com uma carta conjunta dos cinco países que se beneficiam das águas da Bacia Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. As conclusões, entre elas a necessidade de homogeneização das legislações sobre o uso da água nos cinco países, serão levadas ao Fórum Mundial sobre a Água, em março, na Cidade do México.
As indicações aprovadas pelos representantes dos países e de organizações presentes – cerca de 1.500 pessoas – concentram a necessidade de atuação na educação das novas gerações, para garantir a sobrevivência do planeta. A mesma direção é apontada pelo físico austríaco Fritjof Capra, responsável pela palestra de encerramento do evento.
?A vida futura depende da nossa compreensão sobre educação ambiental (ecoliteracy)?, disse Capra, criador do Center for Ecoliteracy em Berkeley, Califórnia (EUA). Neste sentido, o fórum decidiu pela realização, em breve, de uma conferência infanto-juvenil da Bacia do Prata. ?A data ainda não foi marcada, mas é mais uma indicação do sentimento comum existente no fórum pela busca de um novo paradigma?, avalia o diretor de Coordenação, Nelton Friedrich.
Em sua palestra, Capra atacou o que chama de novo capitalismo global, representado pelo neoliberalismo, responsável pela transformação do mundo em um ?cassino para o capital especulativo?, que transforma a vida numa commodity e considera que fazer dinheiro é mais importante que a própria vida.
Os representantes dos cinco países elegeram a Comissão Intergovernamental Coordenadora dos Países da Bacia do Prata (CIC) para centralizar e comandar os próximos movimentos para alcançar a sustentabilidade no uso múltiplo das águas, e garantir que a água seja encarada de forma solidária, não apenas de forma ?comercial e econômico-financeira?.
A idéia é que os países priorizem ações de tratamento de esgoto (humano e animal) e que ?haja vinculação obrigatória na implantação de sistemas de abastecimento de água e esgoto sanitário?. E que fomentem a criação de conselhos tripartites (agricultores, técnicos e órgãos governamentais) e democráticos na agricultura, segurança alimentar e meio ambiente.
Grupos como esses, além da disseminação das ONGs, são dos mais importantes, segundo Fritjof Capra, porque trabalham pela ampliação do uso da agricultura orgânica (os transgênicos, ainda não testados suficientemente, oferecem riscos desconhecidos e são responsáveis por desmatamento e perda de solo fértil, o que já acontece no Brasil e na Argentina, disse) e por demonstrar que a saída ecológica é viável.