Os mercados emergentes terão que se ajustar a um cenário de menor crescimento da China, afirma a economista do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rupa Duttagupta, em uma entrevista a jornalistas nesta quinta-feira, 3. Os fatores externos que antes convergiam para estimular o crescimento de países emergentes, agora estão atuando em direções divergentes e o cenário é mais desafiador. Para piorar, Rupa ressalta que alguns emergentes estão tendo a expansão comprometida também por fatores internos, que deveriam, ao contrário, estimular a atividade.
Rupa destaca que a desaceleração da China tem sido provocada, principalmente, por fatores internos. O país asiático tenta uma transição em seu modelo de expansão, para uma estrutura mais baseada no consumo interno do que nas exportações e investimento. Para a economista, embora as taxas de crescimento do país devam ser menores, a expansão será mais sustentável.
A perda de fôlego do país asiático já pesa no crescimento de alguns emergentes, disse a economista, sem citar nomes. No estudo divulgado pelo FMI hoje, o Brasil é mostrado como um dos que têm correlação mais alta com a economia chinesa entre os emergentes. Um cálculo do FMI mostra que a taxa média de crescimento dos emergentes caiu dois pontos porcentuais em 2012 comparado aos dois anos anteriores. Desse total, só a China foi responsável por 0,5 ponto.
Além da desaceleração da China, outros fatores externos podem pesar negativamente nos emergentes, como as condições mais duras do mercado financeiro internacional por conta da normalização da política monetária dos Estados Unidos. Os custos de captação destes países podem ficar mais altos, destaca ela. Por outro lado, a recuperação do crescimento norte-americano e de outros países desenvolvidos é um fator positivo.
Em alguns casos, fatores internos que deveriam ajudar os emergentes a contrabalançar o cenário externo menos favorável e estimular a economia estão agindo na direção oposta e dificultando o aquecimento da atividade. “Apesar da importância dos fatores externos, como as economias emergentes serão afetadas pelo novo cenário da economia global também depende das suas políticas internas de resposta.” A influência de fatores domésticos na atividade cresceu nos últimos dois anos, mas parece que eles estão reduzindo a expansão, ao invés de estimular o crescimento em países importantes, como a China, destaca a economista do FMI.