FMI promete poder às economias dinâmicas

Cingapura (AE) – Em busca de um papel no mundo globalizado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) abriu oficialmente uma ambiciosa reforma política. Maior poder de voto será conferido às economias emergentes mais dinâmicas e também às mais pobres, por meio de uma redistribuição de cotas. Ao encerrar a assembléia anual anteontem, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, agradeceu nominalmente aos ministros Guido Mantega, do Brasil, e Palaniyappan Chimdambaran, da Índia, por suas participações nos debates. Os dois foram os críticos mais enfáticos da resolução sobre as cotas. Mantega disse numa entrevista que a montanha havia parido um rato.

O nome do ministro brasileiro foi incluído de improviso na leitura do discurso, porque não aparece no texto distribuído. ?Eu entendo muito bem que a votação desta semana ainda não é o fim de nosso trabalho sobre as cotas, mas o começo de um processo que continuará no próximo ano?, disse o diretor. Os governos de Brasil, Índia, Argentina e Egito, opositores da resolução aprovada na segunda-feira por 90,6% dos votos, deverão batalhar para que a fórmula final atenda a seus interesses.

Eles pretendem evitar que alguns emergentes percam votos em benefício de outros. Apontam também o risco de maior concentração de poder, com mais cotas para Estados Unidos, Alemanha e Japão. O governo americano anunciou que, nesse caso, não usará o direito de comprar mais cotas, contentando-se com a participação atual de cerca de 17%. Isso já garante aos americanos o poder de veto nas decisões mais importantes, que dependem de 85% dos votos. Os alemães disseram que não renunciarão ao direito de ter mais cotas e votos e os japoneses não se definiram.

Por enquanto, os ganhadores são China, Coréia, México e Turquia, beneficiados por uma primeira correção de cotas. Esta correção foi baseada nos critérios em vigor. Com as novas cotas, a China passará da 8.ª para a 6.ª posição, tomando o lugar da Itália, e o México subirá do 19.º para o 16.º posto, ocupado pela Espanha. O Brasil cairá do 17.º para o 18.º.

A reforma das cotas é parte da estratégia de médio prazo lançada pelo diretor-gerente. A estratégia inclui novos mecanismos de supervisão de mercados, de prevenção de riscos e de consultas multilaterais. A rodada inicial de consultas está centrada nos desequilíbrios de balanços de pagamentos e boa parte da conversa é sobre o rombo nas contas externas americanas e o câmbio chinês subvalorizado. O governo chinês continua repelindo as pressões para valorizar o yuan.

A avaliação do quadro mundial divulgada pelo FMI, em Cingapura, é um pouco mais pessimista que a do ano passado. Desde o último ano, confirmaram-se as previsões de que o petróleo continuaria caro, suas cotações poderiam subir um pouco mais e as pressões inflacionárias aumentariam.

Apesar disso, a economia mundial continuou a crescer e a estimativa para este ano subiu de 4,9% para 5,1%. Para 2007 a expansão prevista é 4,9%. Mas permanecem as preocupações com o preço do petróleo e o risco de inflação, segundo os economistas do FMI, aumentaram, porque as grandes economias têm menor capacidade ociosa. Diante disso, novos aumentos de juros poderão ser decididos pelos bancos centrais dos Estados Unidos e de outros países do ?primeiro mundo?.

O risco de uma nova onda protecionista, no caso de fracasso da Rodada Doha de negociações comerciais, foi apontado com insistência por Rato, pelos ministros mais influentes e pelos economistas do Fundo. Rato voltou a alertar para o risco no discurso de encerramento da assembléia. ?Uma maré montante de protecionismo deixará a todos em pior situação. Aconteceu antes e pode acontecer de novo?, disse Rato.

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