O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, fez um mea-culpa hoje em relação à última projeção do Fundo para as contas públicas brasileiras. Na ocasião, a avaliação do FMI irritou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que chegou a dizer que o documento havia sido elaborado por “velhos ortodoxos”.
“Fazemos projeções várias vezes ao ano e levamos em conta aquilo que já foi anunciado. Na última, (o governo brasileiro) ainda não tinha anunciado (corte no orçamento) e fizemos com o que tínhamos à mão”, afirmou, em conversa com jornalistas no Ministério da Fazenda. “Sabíamos muito bem que alguma medida seria anunciada, mas não podíamos contar com ela antes”, acrescentou.
Strauss-Kahn afirmou também que, na projeção mais recente do Fundo, o mais correto seria colocar uma nota de rodapé elucidando as variáveis que foram consideradas para apresentar a estimativa. “Não foi bem explicado”, resumiu. Assim, continuou, a avaliação apresentada pelo FMI acabou gerando confusão. “Sobretudo na imprensa brasileira”, enfatizou.
Ele garantiu, porém, que, durante almoço com Mantega realizado pouco antes da entrevista, o ministro não reclamou do trabalho da imprensa. “O ministro não reclamou da imprensa brasileira durante almoço”, disse, acrescentando que se o ministro se sentisse insatisfeito falaria diretamente com os jornalistas.
O diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, Nicolas Izaguirre, que também estava presente na entrevista, fez questão de enfatizar que os números da projeção passada eram relacionados a 2011. “Muitos pensavam que era para 2010, mas tínhamos os mesmos números que vocês”, disse.
Projeção
O diretor-gerente do FMI disse que a próxima projeção do Fundo para as contas públicas brasileiras, que será divulgada nas próximas semanas, durante o encontro da Primavera, terá outro enfoque. “Nossa próxima projeção estará em linha, em conformidade com o que o governo esperava”, afirmou. O dissenso entre o FMI e o governo brasileiro já foi resolvido, conforme Strauss-Kahn. Ele fez questão de enfatizar que todos os dados disponíveis são levados em conta na projeção do Fundo.
Ainda sobre o corte dos gastos, Strauss-Kahn disse depois, porém, que não poderia fazer muitos comentários sobre o contingenciamento de gastos no Brasil porque não tinha muitos detalhes relacionados à medida. “Mas estou convencido de que o governo executará seu empenho fiscal”, disse.
Manobras
Sobre as manobras contábeis utilizadas pelo governo brasileiro para cumprir a meta de superávit primário no ano passado, o diretor afirmou que, quando faz as análises, o Fundo costuma trabalhar os dados para que eles sejam comparáveis. “Há países que são mais criativos”, admitiu.
A agenda de Dominique Strauss-Kahn em Brasília previa encontro com o presidente do BC, Alexandre Tombini, pela manhã e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no início da tarde. Após conversa com jornalistas, ele e Mantega têm audiência com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto.