O comportamento econômico do Brasil desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido “exemplar”, mas o País ainda tem “muita estrada para percorrer”, devido ao elevado nível de sua dívida, disse Kenneth Rogoff, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI). Desde que o novo governo assumiu, “houve uma gestão extraordinária da política do Banco Central; o presidente Lula adotou uma série de medidas ambiciosas para tentar conseguir reformas bem fundamentadas”, ressaltou o funcionário do Fundo em Dubai, onde será realizada na próxima semana a Assembléia Anual do FMI e do Banco Mundial (Bird).
Dubai, Emirados Árabes Unidos (das agências) – Apesar de Rogoff ter parabenizado o Brasil, o Fundo reduziu quase pela metade suas previsões de crescimento econômico para o País, que passaram de 2,8% para 1,5% para este ano. Para 2004, a instituição prevê um crescimento de 3%, 0,5% a menos do que o calculado em abril passado.
Essas indicações fazem parte do relatório anual do Fundo, “Perspectivas Econômicas Mundiais”, divulgado ontem, às vésperas da Assembléia Anual.
Rogoff lembrou, porém, que o Estado brasileiro tem uma dívida interna de mais de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma dívida externa que ultrapassa os 50%, qualificada pela instituição como “muito alta”. “Estes problemas não desaparecem da noite para o dia, é preciso desenvolvimento sustentado para reduzí-los como percentual da produção, pelo menos na ausência de medidas mais radicais”, acrescentou. “Acho que, embora o Brasil esteja indo muito bem, e seu comportamento deve ser louvado, há muita estrada para percorrer”, disse o funcionário do FMI.
Segundo o relatório, o Brasil percebeu como os progressos políticos contribuíram para fortalecer a confiança dos investidores, o que se refletiu na valorização do real e na redução do risco-país.
No entanto, o crescimento econômico continua baixo e o País ainda está vulnerável a uma mudança na atitude dos mercados, devido a sua dependência do financiamento externo para pagar sua dívida, ao esfriamento do investimento estrangeiro direto e ao fato de o risco-país continuar alto em termos absolutos. “A disciplina fiscal continua sendo uma questão básica para manter a confiança, especialmente a adesão à meta de 4,5% de superávit primário para este ano e a médio prazo”, insiste o FMI.
As recentes medidas adotadas para relaxar a política monetária e as taxas de juros foram adequadas, considera o relatório, dado o impacto deflacionário da debilidade da atividade econômica e da valorização do real, que reduz o custo das importações.
Além disso, o FMI indica que é preciso seguir no caminho escolhido pela equipe do presidente Lula para implementar as reformas tributária e da previdência.
A inflação no Brasil, de acordo com o Fundo, será de 15%, em 2003, e cairá para 6,2%, no próximo ano.
Renovação do acordo
O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, deve aproveitar a reunião em Dubai para conversar com os representantes do Fundo sobre a conveniência de renovar, ou não, o atual acordo com esta instituição, que expira no próximo dia 31 de dezembro. “Acho que este é um assunto sobre o qual o Brasil tem de decidir o que quer fazer”, frisou Rogoff.
O presidente Lula já declarou ainda não ter tomado uma decisão sobre o tema, embora tenha avaliado que essa renovação não é imprescindível para o Brasil. Em setembro de 2002, Brasília fechou um acordo com o Fundo no valor de US$ 31,3 bilhões, o maior já assinado na história do instituto financeiro.