O ministro da Fazenda, Guido Mantega, informou nesta terça-feira (24) que o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai anunciar uma linha de crédito flexível para os países que enfrentam dificuldades com a crise financeira internacional. Segundo o ministro, essa linha é de rápido acesso e sem a necessidade de que os países cumpram metas estabelecidas pelo FMI.
Para Mantega, a decisão do FMI é uma vitória do Brasil. Segundo ele, esse é um pleito que o governo brasileiro fez junto ao Fundo e que, na última reunião de abril, formulou por escrito. Ele disse que o FMI tem hoje US$ 250 bilhões, mas vai precisar de US$ 500 bilhões a US$ 1 trilhão a mais para atender à demanda. Mantega disse que o governo japonês já se comprometeu a disponibilizar US$ 100 bilhões.
O ministro disse que o Brasil vai defender, na próxima reunião do G-20, que os países que hoje estão recebendo mais fluxos de capitais reforcem o caixa do FMI. Segundo ele, o Brasil não precisa da linha de crédito do FMI. Mas, quando questionado sobre se poderia colocar recursos no Fundo, respondeu: “o Brasil poderá até colocar, mas o mais importante é que os países que têm recebido grande fluxo coloquem”.
Segundo ele, a linha tem taxas de juros reduzidas, semelhantes à linha tradicional de “stand by” do FMI, com três anos e meio de carência para o início do pagamento e prazo de cinco anos para pagamento. A taxa de juros é de 1,5% a 3% ao ano.
O ministro foi questionado se a Argentina, parceiro comercial do Brasil, é um dos países que precisará da ajuda do FMI, mas evitou responder e disse que não cabe ao governo brasileiro falar sobre o assunto.
Comércio exterior
Guido Mantega disse que o FMI terá de criar também uma linha adicional para oferecer crédito ao comércio exterior aos países emergentes. Segundo ele, para essa linha, serão necessários outros US$ 100 bilhões. A linha terá de ter regras diferentes da linha de crédito flexível. “O comércio sofrerá uma retração este ano, em parte porque a demanda caiu, mas em parte também porque está faltando crédito”, disse Mantega.
Questionado sobre se o Brasil seria candidato a essa linha, Mantega respondeu: “o Brasil conseguiu acomodar a sua necessidade de crédito. É mais importante dar crédito para aqueles que importam produtos do Brasil”, disse Mantega. Segundo o ministro, as exportações brasileiras diminuíram em parte porque alguns consumidores de produtos brasileiros estão sem crédito. “Basta dar crédito a eles, que vai melhorar a situação do Brasil”, disse.
Pacote americano
O ministro da Fazenda avaliou que o anúncio do plano de socorro aos bancos dos Estados Unidos, feito ontem, é “bem-vindo e é um passo importante”. Ele disse que é urgente esse plano porque o crédito internacional é deficitário.
Segundo Mantega, a gestão dos ativos tóxicos é importante porque esses ativos são hoje o principal obstáculo para a regularização do crédito e da confiança internacional. “É um passo importante, não sei a eficácia. Não estudei a fundo. Mas tudo que for feito nesse sentido, é bem-vindo e urgente”, disse em entrevista na portaria do Ministério da Fazenda. “É urgente que os Estados Unidos tomem medidas, porque até agora não foi regularizado (o crédito internacional)”, completou.
Contas externas
Ao comentar o resultado das contas externas de fevereiro divulgado nesta terça pelo Banco Central, o ministro da Fazenda disse que o governo brasileiro espera uma melhora na conta de transações correntes. Segundo ele, há uma diminuição da remessa de lucros e dividendos e também das importações, porque o Brasil está crescendo menos. Segundo o ministro, o Brasil terá um saldo comercial “razoável” e, em razão disso, “poderemos ter estabilidade ou melhora da conta corrente”.
Mantega, no entanto, não respondeu à pergunta de qual o impacto na economia da queda de US$ 35 bilhões na previsão de exportações do País para este ano. O Banco Central reviu nesta terça a sua projeção para o saldo das exportações brasileiras neste ano, de US$ 193 bilhões para US$ 158 bilhões.