FMI anuncia mudanças para “ver” a realidade

Washington  – Quando o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que Raghuram Rajan – um indiano de fala mansa, maneiras suaves e uma sólida reputação acadêmica – tinha sido nomeado como o seu economista-chefe e diretor do Departamento de Pesquisas, em lugar de Kenneth Rogoff, analistas do setor ficaram intrigados. “Por que um mago das finanças está sendo chamado para um posto que sempre esteve em mãos de mestres da macroeconomia?”, perguntou um deles. “Horst Köhler (o diretor-gerente do Fundo) está apostando alto”, disse outro. “O império da macroeconomia no Fundo terminou”, acrescentou um terceiro.

O próprio Rajan, 40 anos, que desde 1997 era professor de Finanças na Universidade de Chicago, disse na quinta-feira passada que a sua meta é a de fazer com que o FMI garanta um maior acesso dos países em desenvolvimento ao crédito e aos mercados, além de fazer com que o crescimento econômico seja acompanhado de uma distribuição de renda melhor.

– Distribuir melhor não significa dar dinheiro para todos e deixá-los viver uma vida feliz, porque isso obviamente desmotiva. O essencial é criar uma competição maior dentro da economia para criar mais acesso a coisas como o crédito, de forma que a própria distribuição vá se modificando com o tempo. Maior acesso à educação e ao crédito faz com que as pessoas abram negócios próprios, competindo com as demais e fazendo a distribuição se equilibrar -disse Rajan.

Ele assumirá o posto no próximo dia 1.º de outubro. A partir daí, muita gente passará a observar seu trabalho mais de perto para ver se ele de fato consegue injetar sangue novo no FMI. Ou se será engolfado pela burocracia estabelecida.

Para ele, um dos papéis fundamentais do Fundo tem de ser o de se importar mais com o bem-estar das pessoas:

– Às vezes os interesses das pessoas e os do seus governos podem divergir. E neste caso, me parece que cabe ao Fundo levar mais em conta os interesses das pessoas. É claro que quem está no governo passaria, então, a criticar o Fundo. Por isso, o FMI deve explicar melhor as suas ações, demonstrando que as toma em favor dos interesses das pessoas – disse o economista.

O livro mais recente de Rajan, lançado há quatro meses, certamente passará agora a ser destrinchado com interesse pelos economistas do FMI. O título já dá uma sólida pista sobre o seu conteúdo: “Salvando o capitalismo dos capitalistas”.

Trata-se de um verdadeiro manifesto contra os poderes estabelecidos. O problema do capitalismo, segundo ele, é que as regras são estabelecidas por quem tem mais poder político, “e mesmo nas democracias, essas pessoas não representam o homem comum”.

? Elas freqüentemente servem a interesses especiais, como industriais dominantes e banqueiros bem conectados. A crença comum é a de que essas pessoas querem que os mercados sejam livres. A verdade, contudo, é que em muitos países as elites empresariais dominantes criaram regras que impedem os mercados de se tornarem verdadeiramente livres e, assim, elas mantêm a população atolada na pobreza.

Sobre o Brasil, esperança:

Quando você tem uma mudança política, e essa mudança traz em si o interesse em expandir o acesso das pessoas ao crédito, ao trabalho, à educação, isso pode ter efeitos maravilhosos na economia.

Prestígio para quem precisa

Washington

– Com a chegada de Raghuram Rajan, sobe para quatro o número de economistas da Índia na cúpula do FMI. E qual seria o motivo da preferência?

– Isso se deve mais à oferta do que à demanda. Pode ser que alguém encare isso como o FMI sendo mais cordial com a Índia. Mas, na verdade, tem mais a ver com o enorme papel que o Fundo e o Banco Mundial (Bird) exerce na psiquê do meu país – disse o próprio Rajan. Segundo ele, economistas americanos, britânicos ou alemães estão menos inclinados a pleitear um posto no FMI ou no Bird, porque acham que não teriam papel significativo.

– FMI e Bird são instituições relativamente sem importância para a economia dos EUA, da Grã-Bretanha, da Alemanha. Mas para nós, indianos, elas são prestigiosas e sabemos que é possível por meio delas fazer algo acontecer nos países em desenvolvimento – disse Rajan.

O novo economista-chefe da casa se junta ao secretário-geral Shailendra Anjaria; ao diretor para América Latina, Anoop Singh, e ao diretor do Escritório de Avaliação Independente do FMI, Montek Sing Ahluwalia.

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