O panorama fiscal do Brasil permanece desafiador, afirma a agência de classificação de risco Fitch Ratings em relatório sobre perspectivas para a América Latina divulgado nesta quarta-feira, 11. A avaliação é que alcançar a estabilização da dívida nos próximos anos é improvável, por conta da dificuldade em cortar despesas obrigatórias do Orçamento, os crescentes gastos com a Previdência e a recuperação ainda lenta da economia.

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A Fitch projeta que a relação entre a dívida bruta e o Produto Interno Bruto (PIB), um dos principais indicadores de solvência de um país, deve subir de 69,9% no ano passado para 76,6% este ano e bater em 80,1% em 2018, um dos níveis mais altos entre emergentes. O documento divulgado nesta quarta menciona que pelas projeções oficiais do próprio governo, um superávit primário só deve vir em 2020. Na terça-feira, 10, a Moody’s já alertou sobre as dificuldades que o Brasil terá para estabilizar a dívida/PIB e que a tendência é de crescimento do indicador nos próximos anos.

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A diretora da Fitch responsável por Brasil Shelly Shetty afirma no relatório que reformar o sistema previdenciário no Brasil permanece essencial, inclusive para o governo conseguir cumprir a medida que estabelece um teto para os gastos públicos. Contudo, a perspectiva para a aprovação da reforma permanece incerta. “As eleições presidenciais de 2018 também podem começar a distrair os políticos da agenda de reformas.”

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Após amargar dois anos de forte recessão, 2017 deve ser marcado pela volta do crescimento no Brasil, ainda que em ritmo moderado, ressalta Shetty no relatório. A previsão da Fitch é que o PIB cresça 0,6% este ano e 2,5% em 2018. A queda considerável dos juros, a melhora do mercado de trabalho, a recuperação dos salários e o cenário externo, que permanece favorável, devem contribuir para que a atividade econômica no Brasil ganhe força nos próximos meses.

Ao mesmo tempo, a Fitch alerta que alguns fatores podem comprometer o ritmo da recuperação, incluindo o endividamento ainda alto de empresas e famílias, a incerteza política e as dúvidas sobre os rumos do ajuste fiscal. O relatório menciona ainda que a inflação tem tido queda significativa e as expectativas para os índices de preços estão bem ancoradas, dando ao Banco Central espaço para cortes adicionais de juros. Além disso, o déficit da conta de transações correntes teve queda significativa e deve fechar o ano em 1%, abaixo do nível de 1,3% de 2016.

A Fitch ressalta ao final do documento alguns fatores que poderiam melhorar a confiança no Brasil: aprovação de reformas, avanço na implementação de políticas econômicas e aceleração da consolidação fiscal que leve a maior certeza de que o governo conseguirá estabilizar a relação dívida/PIB no médio prazo.

Já entre os fatores que podem prejudicar a confiança dos agentes, a Fitch menciona a volta da turbulência política, a queda das reservas internacionais e o fracasso em barrar o aumento do rombo fiscal do governo.