O diretor-executivo da Fitch Rating para o Brasil, Rafael Guedes, afirmou nesta segunda-feira, 28, que “a dinâmica da dívida é preocupação número 1 de analistas” da agência internacional para a avaliação da nota soberana do País. Ele destacou também que para a análise da trajetória do passivo bruto público também contribui como o Congresso se comportará para aprovar medidas do ajuste fiscal proposto pelo governo.

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“A perda significativa de reservas também pode causar rebaixamento de um país. Mas as reservas no Brasil estão bem e são robustas. Esse é o único ponto positivo”, comentou Rafael Guedes. Ele também apontou que outros dois fatores poderiam ser uma piora substancial das dívidas de bancos públicos e uma deterioração do perfil da dívida pública interna, que não está no seu cenário-base, inclusive porque apresentou grande melhora na última década.

Guedes afirmou que é “viável” para o País atingir um cenário econômico no qual evitará o avanço da dívida pública bruta. “Essa dívida está em 65% do PIB e está encostando em 70% do Produto Interno Bruto”, comentou. “Para estabilizá-la, é preciso um crescimento do País próximo a 2% e superávit primário ao redor de 2,5% do PIB. É bastante factível para que o Brasil atinja essas marcas”, destacou.

“Mas com investimento baixo, a 16% do PIB, o País não consegue crescer 2%”, ponderou Guedes. Ele ressaltou que o desequilíbrio da economia pode também ser identificado na elevação expressiva do déficit nominal, que atingiu 6,5% do PIB em 2014 e caminha para 9% do PIB neste ano.

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Guedes avaliou que as medidas relativas ao ajuste fiscal proposto pelo governo para 2016, com uma meta de superávit primário de 0,7% do PIB, podem ser aceitas pelo Congresso. “O ajuste não tem medidas difíceis de serem aprovadas, desde que haja consenso da base (do governo)”, comentou. “Uma coisa é a vontade da equipe econômica, outra é a capacidade de passar medidas.”

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“Ajuste fiscal com economia em retração é extremamente difícil”, comentou Guedes. “O primário de 0,7% do PIB depende de uma série de medidas.” Ele ressaltou que no início deste ano o Congresso não ajudou o governo na aprovação de ações corretivas das contas públicas. Ele destacou que a perspectiva negativa do Brasil indica que há risco maior de 50% para que a nota soberana do País seja rebaixada entre 12 e 18 meses.

Ponto negativo

Guedes afirmou que a área fiscal é “tradicionalmente um ponto negativo” da economia brasileira. Ele destacou que o governo tem uma meta de 0,7% do PIB de superávit primário para 2016, mas que ainda não é nítido que o poder Executivo conseguirá alcançá-la. “O governo está mostrando que está enfrentando um Congresso que não o tem apoiado”, comentou Guedes. “O cenário-base (do poder Executivo) para a economia está ficando distante daquilo que será entregue”, apontou.

Para Guedes, os analistas da Fitch que avaliam o Brasil analisavam em abril um cenário de estabilidade da dívida pública bruta até 2018. Mas como os indicadores econômicos se deterioram desde aquele mês, quando a agência reduziu a perspectiva do País de neutra para negativa, isso está sendo ponderado pelos especialistas da agência internacional.

“A capacidade de pagamento da dívida tem se alterado significativamente”, ponderou, referindo-se à piora de resultados fiscais e de atividade desde o início do ano. “Vamos olhar agora as novas premissas. Vamos avaliar se a expectativa de estabilidade da dinâmica da dívida pública para 2018 vai ser impactada ou não”, comentou. “Conforme o cenário-base dos analistas, o Comitê da Fitch vai avaliar.”

Guedes ponderou que o Brasil tem um problema estrutural de crescimento, que está relacionado com vários fatores, como baixo nível de investimentos. “Crescimento e confiança baixos e o Congresso não ajuda”, disse. “É um quadro difícil.”

Contas externas

O diretor da Fitch destacou ainda que “a piora das contas externas do Brasil está se ajustando muito rápido”, sobretudo com a expressiva desvalorização do real ante o dólar desde o início do ano. “O déficit de transações correntes deve baixar de US$ 103 bilhões em 2014 para perto de US$ 70 bilhões em 2015”, comentou.

Na avaliação de Guedes, por outro lado, a grande “volatilidade” do câmbio desde o começo de 2015 gera um quadro de dúvida e instabilidade que afeta “o ingresso e saída de investimentos no País.” Segundo ele, um movimento malfeito de gestores de recursos ao considerar uma determinada cotação do dólar pode comprometer o resultado de sua aplicação relativa a um período de “seis meses ou até de um ano inteiro”.